sábado, 30 de dezembro de 2006

> Acreditar no futuro...

O primeiro-ministro José Sócrates, na sua mensagem de Natal ao país, traçou um cenário muito optimista em relação ao futuro de Portugal. Falou dos resultados já conseguidos e reconheceu que algumas políticas do Governo têm causado dificuldades aos portugueses. José Sócrates só podia ter este discurso. Ouvindo o chefe do governo, pareceu-me que acreditava no que estava a dizer aos portugueses. Fiquei com a ideia de que Sócrates está convencido de que este é o caminho para que o país corrija alguns problemas estruturais crónicos que estão na base do atraso que tem em relação aos seus parceiros europeus. Sócrates e os seus ministros devem prosseguir o seu trabalho, mostrando-se impermeáveis aos poderes corporativos da nossa sociedade, que têm procurado impedir a implementação de reformas que comprometem algumas regalias injustificadas.


Mas Sócrates não pode ficar encandeado pela frieza da linguagem tecnocrata, ordenando todas as suas políticas em função de critérios meramente estatísticos, que muitas vezes, qual autêntica enxurrada, acabam por levar ao sufoco das classes mais frágeis da nossa sociedade, nomeadamente as que menos folga tinham para suportar o embate de algumas decisões deste Governo. Também me parece que algumas medidas devem ser corrigidas, pondo fim a um afunilamento de investimentos cada vez mais evidente nas regiões do litoral, conduzindo a um atrofiamento do interior deste nosso país, cada vez mais vergado ao fenómeno da desertificação.

Bem sei que deve ser problemático compaginar todos os interesses, procurando, em nome do interesse colectivo, levar por diante as reformas necessárias, mas, ao mesmo tempo, criar condições para minimizar o seu impacto negativo nos portugueses menos favorecidos, nomeadamente os do interior, onde os rendimentos são mais baixos. Esse é o principal desafio de Sócrates e de Portugal. Só os grandes governantes serão capazes de o fazer. Se o país crescer, com certeza que, a prazo, vai reunir melhores condições para prestar assistência a quem mais precisa. Se o país crescer, a economia fica mais forte, criam-se mais empregos e, em teoria, reduzem as situações de exclusão social. Quero acreditar: este é o grande desígnio de Sócrates, um primeiro-ministro com sensibilidade social, à qual deve fazer jus nos próximos anos, temperando alguns excessos tecnocratas.

Um próspero Ano Novo para todos.

sábado, 23 de dezembro de 2006

> É Natal


É da praxe nesta altura do ano escrever um texto sobre o Natal. Com muita franqueza, face ao volume intenso de trabalho a que tenho estado sujeito nas últimas semanas, quase não tive ainda a sorte de sentir o espírito da quadra.
Admito, aliás, que de ano para ano tenho mais dificuldade em senti-lo, pelo menos na forma e na intensidade de outros tempos. O reboliço do dia a dia quase trucida a possibilidade de pararmos para pensar no chamado espírito natalício, que por estes dias a publicidade procura reproduzir em tons de fantasia, em doses industriais. De tal forma assim é que olhamos para tudo isto com uma sensação estranha de artificialismo. Sentimos que há uma máquina poderosa por detrás desta imagem magnânima do Natal. É uma máquina comercial que procura vender tudo e mais alguma coisa, tirando partido de uma sociedade cada vez mais materialista, que tem o seu clímax nesta quadra de consumismo exacerbado. Muitas pessoas perdem-se nesta altura do ano. Gastam enormes quantidades de dinheiro em verdadeiras inutilidades que oferecem apenas para cumprir uma espécie de ritual. Para mim, o Natal é diferente. Nas poucas horas que lhe dedico, procuro fazê-lo de forma mais qualitativa do que quantitativa. Passo a explicar: ligo muito pouco aos presentes, excepto os que se destinam às crianças, essas sim, credoras da nossa atenção especial, também no gesto de oferecer algo que lhes proporciona tanta alegria. Quanto aos adultos, o tratamento é diferente. Para alguns, poucos, os que me dizem mais ao coração, não esqueço um presente, que procuro seja muito especial. Para os demais, inclusive familiares, com a concordância desses, reservo apenas a minha presença sentida na noite ou no dia de Natal. É uma decisão partilhada e recíproca que tomámos há alguns anos. Não gastamos assim tanto dinheiro em pares de meias, perfumes ou outras inutilidades, mas mantemos o espírito natalício do convívio à volta das batatas cozidas com bacalhau, enquanto, por entre uma rabanada e um prato de aletria, aguardamos o momento sempre tão bonito de convidar as crianças da família a abrir os presentes deixados pelo Pai Natal.
É uma delícia para os olhos e um bálsamo para o coração vermos a alegria dos nossos meninos. Sentimo-nos também crianças e o espírito impele-nos para junto dos mais novos, com os quais experimentamos as delícias de brincar com as novidades deixadas pelo Pai Natal.
Mas Natal é também o tempo em que muitos negócios aproveitam para fazer um pé-de-meia. Tanta gente espera esta quadra na expectativa de poder recuperar de um ano parco em receitas. O Natal tem esta veia de consumismo, mas reconheçamos que esse, na óptica de quem vende, tem mesmo de existir. Faço esta reflexão lembrando sobretudo o pequeno comércio, cada vez mais sujeito a uma pressão enorme das grandes superfícies comerciais. O comércio tradicional enfrenta um desafio enorme, que poucas lojas estarão em condições de vencer. Não tenho dúvidas de que os anunciados centros comerciais nestas cidades pequenas, como o que está previsto para Amarante, acabarão com o que resta do nosso pequeno comércio. Poucas lojas saberão e terão capacidade de resistir, confrontadas com a concorrência de uma superfície comercial recheada de lojas moderníssimas, com marcas da moda e com um design atraente. As novas gerações não têm o hábito de percorrer os centros históricos no comércio tradicional. Preferem o conforto do ar condicionado dos centros comerciais, onde encontram as lojas das marcas preferidas e a comida de plástico que tanto apreciam. No galgar dos anos, o comércio tradicional vai definhando e só sobreviverá o que for capaz de se renovar, procurando ir de encontro às necessidades das novas gerações.
Num futuro não muito distante, o Natal, no que ao consumismo diz respeito, vai ser quase um monopólio das catedrais do consumo, deixando às moscas as ruas de cidades que noutros tempos fervilhavam de sensações nesta altura do ano.
Todos vamos preferindo, cada vez mais, o calor do centro comercial, ao frio e à chuva das calçadas, ainda que recheadas de história…
São os ditames dos nossos tempos.
Ainda assim, feliz Natal para todos.

segunda-feira, 18 de dezembro de 2006

> Natal em Amarante (foto Armindo Mendes - direitos reservados)

Numa noite fria e de nevoeiro... uma quente imagem do Natal amarantino....

> Muitos partem...

Tenho observado nos últimos meses a partida de algumas pessoas do meu rol de amizades para alguns países europeus à procura de melhores dias. Vão tristes por deixar a sua terra, mas esperançados em dias melhores.
Esperam sobretudo muito trabalho, quase sempre pouco qualificado e que os cidadãos dos países de destino não estão dispostos a fazer. Construção civil, agricultura e hotelaria são as principais actividades, a troco de um salário mínimo nos países de acolhimento, mas interessante atendendo ao nosso paupérrimo poder compra. Nos dias que correm, uma remuneração de 1500 ou 2000 euros é muito difícil de se conseguir em Portugal, mas lá fora, com um pouco de sorte, assegura-se esse ordenado, o que tem permitido a alguns fazer algumas economias para fazer face aos encargos domésticos.
Em Portugal deixam, não raras vezes, mulheres e filhos. Alguns que conheço não disfarçam o sofrimento que essa situação lhes provoca, mas a ela têm de se resignar, vergados à imperiosa necessidade de ganhar pão para si e para os seus. Nos olhos de um amigo próximo, nos momentos da partida, percebe-se uma tristeza imensa que nos contagia e nos deixa uma sensação azeda...
É triste esta situação. É triste vivermos num país que se diz desenvolvido e não reúne condições para que as pessoas que por cá vivem possam ter direito a algo tão essencial como o trabalho. O que dizer disto, quando vemos que, em simultâneo, tanto dinheiro é desperdiçado por uns quantos, ditos das classes mais favorecidas? É triste percebermos que neste país o fosso entre os mais necessitados e os mais abastados se acentuou neste período de crise prolongada, como se vai percebendo pelas vendas em alto dos veículos topos de gama. Tento, em vão, perceber a que se deve esta tendência. Os especialistas em “economês” afirmam que estas assimetrias são normais em fases de recessão económica, o que parece ser uma inevitabilidade cruel que muitas empresas aproveitam de forma perversa. Por exemplo, custa-me perceber que país é este onde muitas empresas em vez de apostar na excelência e na qualificação dos recursos humanos, preferem usar e abusar de mãos de obra barata e nem sempre com a qualificação ou experiência mínimas.
Permitam-me que, a propósito do que já escrevi, reflicta um pouco sobre o que se vai passando na minha área profissional – a comunicação social –, eventualmente algo que não será muito diferente do que acontece noutras áreas laborais. Há cinco anos, a maioria dos jornalistas da minha geração, que vagueiam na casa dos trintas, ocupavam cargos de destaque nos principais jornais e rádios da região. Eram, por isso, profissionais razoavelmente remunerados. Chegados os primeiros sinais de crise económica, que rapidamente afectaram as empresas de comunicação social, estas confrontadas com uma baixa acentuada do volume de publicidade – a sua principal receita – logo tiveram a compreensível necessidade de avançar com uma política de contenção de despesas, em alguns casos também na área dos recursos humanos. Até aqui tudo normal. Menos normal se tornou a tendência que então se adoptou, que passou por, gradualmente, ir dispensando os jornalistas mais experientes, que foram considerados um peso excessivo, atendendo aos salários que auferiam. Esta política foi seguida de outra ainda mais censurável, que passou pelo convite a um sem número de estagiários em regime precário, isto é, com o mero expediente do recibo verde, que passaram a desempenhar as funções dos dispensados. Dirão alguns, foi a forma encontrada por algumas empresas de comunicação social para continuar a trabalhar. Por tudo isto, não se admirem as pessoas da perda de qualidade da maioria dos órgãos de comunicação social de uma região deprimida cuja economia tem dificuldade em sustentar os jornais que por cá existem. Enquanto os ditos estagiários, são convidados a manter o seu regime precário por tempo indeterminado, alguns jornalistas de qualidade na nossa região estão no desemprego há meses, nalguns casos há anos. Ninguém lhes dá trabalho, simplesmente porque são “demasiado” caros e porventura saberão demais, ao ponto de poderem reclamar aquilo a que qualquer trabalhador tem direito.
Um desses jornalistas, que foi em tempos não muito distantes, chefe de redacção de um importante jornal do Vale do Sousa, dizia-me, desencantado, que tinha recebido uma proposta para ir para Inglaterra apanhar tomates. Dizia-se tentado a aceitar o desafio.
“Estou farto de nada fazer”, afirmava-me ao telefone, logo me pedindo a minha opinião.
Não fui capaz sequer de esboçar uma resposta.

Era inevitável?

Para grande tristeza de muitos amarantinos, consumou-se o há meses anunciado encerramento da maternidade do Hospital de S. Gonçalo, um dos poucos equipamentos que distinguia Amarante dos demais concelhos do Baixo Tâmega.
Este é um momento que nos deve a todos fazer reflectir face ao país que temos e o Portugal que queremos legar aos nossos filhos e netos.
Assumi por diversas vezes, em editorial, a minha firme oposição a esta medida do governo, que considero injusta, sobretudo porque se baseia em pressupostos alegadamente técnicos, cuja sustentação tem sido rebatida em vários fóruns com participação de pessoas avalizadas na matéria. Reafirmo a minha convicção de que esta decisão do ministro Correia de Campos assenta em critérios economicistas, que mais não visam do que concentrar serviços e assim diminuir despesas, aliás na linha de outras políticas para o sector, como aquela que já está prevista para as urgências médico-cirúrgicas que vão encerrar em vários hospitais do país, inclusive no de Amarante, este, pelo que se tem ouvido, apenas durante a noite.
Sabemos que o país atravessa dificuldades e que este governo tem posto em marcha medidas corajosas para corrigir alguns desequilíbrios estruturais, as quais tenho, na maioria dos casos, enaltecido. Mas, em relação à saúde, muitas decisões têm ido, em minha opinião, longe demais. Em primeiro lugar, porque têm um impacto quase brutal nos extractos da população mais débeis, como os reformados e as famílias de menores posses económicas, agora obrigados a deslocações maiores a hospitais distantes e desenraizados da área de residência dos doentes. Para alguns de nós, possuidores de bom automóveis, uma deslocação a Penafiel até nem terá grande impacto nos orçamentos particulares, mas para centenas de reformados da região, de meios rurais, que têm de viver mensalmente com um minguo orçamento e nem sequer têm transporte próprio, uma deslocação ao Hospital Padre Américo ou outro qualquer, de autocarro ou de táxi, pode significar uma despesa enorme, que ninguém da tutela irá comparticipar.
Bem sei que muitos defensores destas medidas para a saúde do governo já estarão a chamar-me demagógico, avançando com um chorrilho de dados estatísticos que sustentarão a decisão de Correia de Campos. Mas a minha sensibilidade é outra: por mais adequada que pareça uma medida, quando analisada à luz de critérios genéricos aferidos nos distantes gabinetes ministeriais, não devemos nós, cidadãos comuns, esquecendo disciplinas partidárias, questioná-las quando olhamos à nossa volta e percebemos os impactos que essas decisões têm em muitas pessoas, que não passam de números insignificantes na visão tecnocrata de uns quantos políticos. Que importância terá para esses senhores o sofrimento de um idoso doente ou de uma família de uma mãe pobre agora obrigada a ter o seu filho lá longe em Penafiel? Com certeza pouca… Tão pouca quanto o peso que os concelhos de um interior cada vez mais desertificado têm à luz dos nossos políticos, que não querem ver o grave erro em que estão a lavrar, quando, esquecendo princípios de subsidiariedade que assumiram quando por cá passaram aquando das eleições, insistem em medidas que acentuam a fuga das populações do interior rural para um litoral cada vez mais sobrepovoado e com uma qualidade de vida em constante degradação, como se vê pelo aumento da criminalidade violenta dos grandes centros, o trânsito caótico e os níveis de poluição atmosférica e sonora.
Outros países da Europa, mais desenvolvidos do que o nosso, adoptaram medidas idênticas em décadas anteriores, concentrando serviços e investimentos em infra-estruturas nas maiores cidades. Hoje, os mesmos países, confrontados com um crescimento brutal da suas grandes cidades, onde crescem os bairros degradados, reconhecem o erro e começam a apostar em medidas no sentido inverso, investindo em serviços desconcentrados de qualidade que ajudem a fixar as populações do interior e assim aliviem a pressão sobre os grandes centros.
Infelizmente Portugal, também no tipo de políticas adoptado, também enferma do atraso crónico que nos transforma num dos países mais atrasados de Europa.

quinta-feira, 30 de novembro de 2006

> Agarrar a oportunidade


Amarante poderá ter, em breve, um grande centro comercial do grupo Martifer, com uma área superior a 15 mil metros quadrados. A estrutura está perspectivada para os terrenos junto às antigas instalações da Tabopan, entre estes e o edifício Cristal Center.
A matéria foi já discutida em reunião de Câmara e nesta fase o executivo, a pedido do Ministério da Economia, onde se encontrão processo para autorização, apenas se tem de pronunciar sobre a localização. Na reunião de segunda-feira a oposição levantou dúvidas sobre os impactos que o centro comercial poderá ter em termos de congestionamento de tráfego naquela zonza da cidade, sobretudo na EN 15, cuja faixa de rodagem, com se sabe, não reúne condições para suportar o esperado fluxo de trânsito. Os serviços técnicos da Câmara já propuseram que o promotor do empreendimento faça uma via paralela entre o centro comercial e a EN 15 que permita um acesso mais facilitado e minimize o impacto na EN 15.
Mais do que estar aqui a discutir questões técnicas, cuja pertinência não ouso questionar, pretendo apenas reflectir quanto à necessidade desta matéria não ser politizada. As forças com assento no executivo devem procurar acautelar, acima de tudo, os interesses de Amarante, uma cidade que muito beneficiaria com a construção de um centro comercial com a qualidade do que está projectado. Amarante não se pode dar ao luxo de perder o interesse manifestado pelo grupo Martifer, o mesmo que recentemente inaugurou um centro comercial em Paços de Ferreira, que criou mais de mil postos de trabalho e reforçou a notoriedade daquela cidade do Vale do Sousa. Amarante ganhará postos de trabalho e reforçará a sua capacidade de atractividade no quadro do Baixo Tâmega. Poderá ser também uma oportunidade de muitos lojistas do comércio tradicional, como já está a ocorrer em Paços de Ferreira, poderem beneficiar do acréscimo de pessoas que passarão a visitar a cidade. Todos devemos estar atentos e tirar o melhor partido de uma mais-valia que, espero, constituirá um tónico para que Amarante, em certos aspectos, sobretudo o comercial, descole de uma certa letargia.

domingo, 26 de novembro de 2006

> Centro histórico mais vivo


O novo regulamento de trânsito da cidade de Amarante vai entrar em vigor nos próximos dias, introduzindo pequenas alterações nos sentidos de circulação de algumas artérias, mas mantendo aquilo que é mais importante: o centro histórico livre da circulação de automóveis.

Termina assim um longo e polémico processo de elaboração do regulamento de trânsito da cidade, que foi politizado em demasia, acabando por prejudicar a discussão aberta da questão de fundo em que muitos amarantinos divergem: haver ou não trânsito na praça da República e Rua 5 de Outubro.

A oposição no executivo municipal chegou a impor a sua maioria naquele órgão alterando aquela que era a proposta inicial do vereador do pelouro, Carlos Silva. Como recordar-se-ão os nossos leitores, a referida proposta mantinha a interdição da circulação no centro histórico, mas os dois vereadores do movimento Amar Amarante e os dois dos PSD impuseram a aprovação de alterações que apontava no sentido de reabertura daquela zona da cidade ao trânsito.

Semanas depois, cumprido o período de discussão pública, a proposta emanada da Câmara aprovada pela oposição foi submetida à Assembleia Municipal, onde a maioria socialista impôs nova alteração, desta feita em sentido contrário, repondo a filosofia inicial da proposta que havia sido apresentada no executivo pelo vereador do pelouro. Viveram-se então na Assembleia Municipal momentos que em nada abonaram para a boa imagem daquele importante órgão autárquico, com uma discussão nem sempre civilizada entre as duas correntes de opinião. O momento mais crítico ocorreu quando, após uma maratona de argumentos contraditórios, foram postas à votação as alterações propostas pelos deputados do PS e os eleitos da oposição, com excepção dos presidentes de junta, decidiram abandonar a sala, evidenciando uma manifesta falta de cultura democrática, ao não acatarem a vontade soberana da maioria, aliás tão legítima quanto a maioria no órgão executivo que tinha imposto uma decisão diferente, contra a vontade do partido que ganhou as eleições em Outubro de 2005.

Estes episódios trouxeram à colação, como repetidamente já escrevi nestes editoriais, a urgência de os principais partidos do círculo do poder – PS e PSD – se entenderem no sentido de alterar a lei actual que confere ao executivo municipal uma vocação colegial, que pode redundar, como ocorre actualmente em Amarante, numa correlação de forças entre os partidos das oposição poderem impor a sua vontade à força que recolheu maior número de votos em eleições.

Mas, mais do que escalpelizar de novo esta matéria de foro legislativo, prefiro quedar-me na satisfação de poder constatar que a minha opinião sobre a questão do trânsito acaba por ser coincidente com a que efectivamente vai agora ser posta em marcha. Bem-haja aos que, nos locais próprios, resistindo à demagogia fácil, se bateram com grande elevação, pela manutenção de uma conquista da cidade de Amarante: o centro histórico livre de carros.

Aplaudo a lucidez dos que acham que uma cidade sem carros é uma cidade mais viva uma cidade mais saudável, onde todos podemos caminhar calmamente, desfrutando da beleza daquele que considero ser um dos quadros mais bonitos do nosso Portugal.

Compreendo que alguns, sobretudo pequenos comerciantes, tenham uma opinião contrária, confrontados que estão com uma crise económica que também os afectada. Não creio, porém, que a questão do trânsito explique as dificuldades. Penso até que as ruas fechadas propiciam melhores condições para as compras no comércio tradicional, como se pode constatar noutras cidades onde isso já ocorre. Mais do que os lamentos, era importante que alguns comerciantes se esforçassem no sentido de modernizar os seus estabelecimentos, tornando-os mais apelativos e também, porque não, praticassem horários mais condizentes com as exigências do um mercado cada vez mais concorrencial. Se o fizessem reuniriam melhores condições para potenciar, em proveito próprio, o maior fluxo de clientes, muitos dos quais até são turistas, que caminham nas ruas de Amarante e tantas vezes encontram as lojas encerradas.

segunda-feira, 13 de novembro de 2006

> S. Martinho de Penafiel: tradição mantém-se


> Condenação de Saddam: faca de dois gumes!

A recente condenação à morte do ex-ditador iraquiano, Saddam Hussein, não surpreendeu ninguém. Tudo apontava para que fosse esse o desfecho do julgamento, tão graves eram os crimes de que vinha acusado o velho senhor de Bagdad.
Pelo meio, segundo alguns observadores, verificaram-se alguns atropelos dos direitos à defesa do arguido, que não abonam em nada à boa imagem do novo regime no poder.
Sem ousar questionar a justeza genérica da condenação do ex-ditador, insurjo-me, porém, contra a pena aplicada, simplesmente porque sou contrário à aplicação da pena de morte. Também, por este aspecto, se afere a diferença cultural que ainda separa os povos europeu e americano, o primeiro, onde abunda uma tradição humanista, claramente contrário à aplicação da pena de morte, e o segundo, de tradição mais “belicista”, maioritariamente favorável àquela sanção, que aliás aplica no seu próprio sistema judicial.
A pena aplicada a Saddam pode, entretanto, acicatar ainda mais os ânimos num país que é uma manta de retalhos. As primeiras reacções apontam nesse sentido, com os xiitas a manifestar o seu regozijo e os sunitas a sua contestação. É quase certo que as duas comunidades se vão envolver em mais uma onda de violência, o que acabará por gerar um número indeterminado de mortes, ajudando a deitar por terra o esforço do governo local e do invasor americano para tentar acalmar o país. A condenação de Saddam, paradoxalmente, também poderá ser uma má notícia para os soldados norte-americanos, que continuam mergulhados num colete-de-forças encarniçado, do qual não sabem como sair. Enquanto o presidente Bush, no conforto da sala oval, agora muito preocupado com as eleições para o Congresso, se vangloria do feito do tribunal iraquiano, os soldados da super potência vão morrendo às dezenas, incapazes de suster ódios étnicos enraizados por longos anos de recalcadas assimetrias sociais e divergências religiosas radicais. A intervenção militar americana, baseada em pressupostos que hoje se sabe terem sido desprovidas de sustentação objectiva, só veio incendiar o rastilho deste barril de pólvora que ninguém sabe como e quando irá parar. O povo americano começa a questionar-se até quando vão continuar a morrer os seus filhos, a troco de uma pretensa segurança doméstica que tarda em chegar. Cada vez mais se desenha na penumbra uma triste analogia entre o que se passou no Vietname e o que vai grassando naquele país. Preocupa-me ainda que esta condenação de Saddam possa ser aproveitada por organizações radicais para justificar mais alguns actos tresloucados, vitimando civis inocentes em países ocidentais, como já aconteceu em Nova Iorque, Londres e Madrid.

> Dogmatismo ideológico

Fui por estes dias abordado por um cronista amarantino que me questionava sobre o último editorial de “O Jornal de Amarante”, no qual eu fazia um balanço positivo do primeiro ano de mandato e elogiava a postura de Armindo Abreu. Aquele homem da escrita criticava, de forma educada, o sentido geral do texto e apontava-me algumas situações, afirmando que ora dava no cravo ora dava na ferradura.
Ouviu atentamente, mas expliquei que as minhas opiniões são positivas ou não consoante a matéria. Ao contrário de outros, porventura dele próprio, as minhas posições e não se subjugam a quaisquer orientações político-partidárias ou ideológicas, quase dogmáticas, essas sim fortemente condicionadas da opinião de alguns “escribas” das nossa praça”. Ser-se livre é assim. Este é o meu conceito de liberdade de expressão da nossa cidadania. Ou se concorda ou não com isto ou aquilo, independentemente do partido A ou B, o político C ou D defender uma posição de natureza mais partidarizada. Alguns que eu considero, mas que fazem parte dos tais grupos de comprometidos sob ponto de vista partidário, já me chamaram incoerente na forma como critico ou apoio determinadas medidas deste governo ou deste executivo municipal. Se o faço é porque estou desprendido de quaisquer amarras ideológicas rígidas ou de disciplina partidária, condição que me permite analisar cada matéria e defendê-la ou contestá-la, dependendo da apreciação que dela faço. Essa é a minha natureza de cidadão livre e atento ao fervilhar da nossa sociedade.

> Primeiro ano de mandato: balanço positivo

Completou-se recentemente o primeiro aniversário deste mandato autárquico, momento aproveitado pela Câmara e pelo partido maioritário no executivo, o PS, para fazer um balanço trabalho realizado.

Questionei-me se devia também, na qualidade de director deste jornal local, fazer um balanço apreciativo do trabalho realizado pela autarquia. Confesso que hesitei antes de começar este editorial, simplesmente porque sei que qualquer opinião por mim vertida será alvo de comentários depreciativos de um lado ou de outro da barricada, consoante o tom elogioso ou crítico do trabalho desenvolvido pela edilidade liderada por Armindo Abreu. Acresce que, como jornalista, passe a imodéstia, terei porventura um olhar incisivo e imparcial sobre o que se vai passando neste concelho, tendo também em conta que conheço razoavelmente a realidade de municípios vizinhos, o que facilitará as sempre inevitáveis comparações. Feitos estes considerandos que considero enquadradores do que pretendo explanar, vou então partir para um comentário sucinto deste primeiro ano de mandato.

Assumo, sem tibiezas, que faço um balanço manifestamente positivo do trabalho realizado. E explico porquê: O presidente Armindo Abreu viveu no início deste mandato os mais difíceis dias da sua carreira política, confrontando-se com situações que puseram à prova os seus “nervos de aço”. O presidente nunca antes tivera de governar em minoria num executivo dominado por duas forças da oposição. Uma das forças - os vereadores do movimento Amar Amarante - revelou no início do mandato um mau perder, protagonizando um comportamento agressivo e provocante, exorbitando os seus direitos de oposição e enveredando por expedientes que mais não pretendiam do que provocar a confusão e causar desgaste na equipa de Armindo Abreu.

Viveram-se então momentos que não dignificaram o órgão Câmara Municipal. As discussões em tom inusitado travadas entre Ferreira Torres e o presidente ficarão para a história como uma página obscura do poder autárquico democrático em Amarante.

Ao mesmo tempo, também se sentia o desconforto do PSD, mal recomposto de uma grande derrota eleitoral. Aqui ou ali percebia-se que os sociais-democratas se mostravam permeáveis à demagogia das propostas do movimento Amar Amarante, não resistindo os laranjas à tentação de embarcar nas posições da outra força da oposição e assim criar desconforto na força que tinha ganho as eleições. Conseguia-se assim, de forma artificial, com a maioria contra natura formada pela oposição, subverter aquela que tinha sido a vontade dos amarantinos, que tinham escolhido, de forma inequívoca, o PS e Armindo Abreu para conduzir os destinos da sua terra. O que se passa em Amarante só releva o que defendo há muito: a mudança da legislação, que acabe com o poder colegial num órgão executivo como a Câmara, onde apenas devia ter assento a força que ganha as eleições, reforçando-se em contraponto os poderes fiscalizadores do órgão Assembleia Municipal.

Foram meses difíceis para Armindo Abreu. O presidente nunca vacilou, mantendo-se hirto na defesa dos seus princípios e do programa que propôs ao eleitorado. Ora sereno, ora mais crispado na defesa dos seus argumentos, mas sempre coerente, Armindo Abreu voltou a confirmar a sua veia de lutador, que tão evidente se tinha tornado no combate difícil que travou durante a campanha eleitoral. Esta é a característica que mais aprecio no presidente do executivo, independentemente de nem sempre concordar com os seus pontos de vista e a suas opções estratégicas. Armindo Abreu é um homem que assenta a sua actuação em princípios sólidos, entre os quais os da coerência, frontalidade e honestidade política, e isso revelou-se determinante para que o presidente tivesse saído da fase mais crispada do mandato mais fortalecido e confiante no futuro.

Sobretudo por isso faço uma apreciação positiva do primeiro ano do mandato, que há-de ficar como uma manifestação inequívoca de que, independentemente dos engulhos que se colocam no nosso caminho, vale a pena lutar pelos princípios em que acreditamos.

segunda-feira, 16 de outubro de 2006

CHEGA JARDIM!!!


A nova proposta de lei das Finanças Regionais anunciada pelo Governo da República determina uma quebra de 45 milhões de euros na transferência de verbas para a Região Autónoma da Madeira.
Este propósito do governo, que terá ainda de ser aprovado pela Assembleia da República, tem vindo a ser veementemente e de forma pouco cortês contestado pelo presidente do governo regional, Alberto João Jardim, que acusa o primeiro-ministro de estar a protagonizar um ataque sem precedentes àquela região autónoma. João Jardim, no seu estilo, já pediu a demissão do ministro das Finanças, Teixeira dos Santos.
Quem não parece nada intimidado com as afirmações do governante madeirense é o primeiro-ministro, José Sócrates, que se tem mostrado irredutível na decisão tomada.
Sócrates tem razão, porquanto assenta a sua decisão num princípio de justiça e subsidiariedade, tão caro a todos os portugueses. O primeiro-ministro lembra que a Madeira apresenta um dos índices de desenvolvimento mais elevados do país, que justificam uma redução na transferência de recursos do Estado para aquela região autónoma, ao mesmo tempo que tornará possível aumentar o apoio às regiões mais pobres. O primeiro-ministro também lembra a João Jardim que a lei é igual para todos e que a nova legislação permitirá ter um maior controlo sobre o endividamento das regiões autónomas.
Finalmente, um governante deste país teve coragem de dizer a João Jardim aquilo que aquele já merecia. Neste país a lei é igual para todos e nem o senhor Jardim, por mais poderoso que seja na “sua ilha”, tem o direito de ultrapassar as orientações gerais da política traçada pelo governo da República. Sócrates afirmou que o governo da Madeira não tinha sido autorizado a contrair um empréstimo de 150 milhões de euros, mas o executivo da Jardim decidiu fazê-lo, contrariando de forma grosseira uma orientação do governo central e comprometendo o objectivo português em termos de défice público. “Basta” – disse Sócrates. Com certeza que a maioria dos portugueses se revêem nesta atitude do primeiro-ministro, que vai dando mostras de que é efectivamente um governante corajoso e reformista, ao enfrentar, nas últimas semanas, forças de pressão poderosas, como os autarcas, o presidente do governo regional madeirense e os docentes. Estes e outros lobbys parecem querer ficar à margem do esforço nacional a que quase todos estamos a ser sujeitos para modernizar o país.

> GNR SOB FOGO?

Nos últimos dias, os noticiários televisivos deram grande destaque à recentes situações em que agentes da autoridade de Matosinhos e de Gaia alvejaram viaturas, cujos ocupantes estariam, alegadamente a fugir às forças da ordem. Os disparos causaram a morte de um jovem e ferimentos noutros suspeitos. Este incidente remete-nos uma vez mais para a reflexão em torno do papel das forças de segurança face a uma criminalidade cada vez mais violenta e urbana.
Sou dos que ficam incomodados quando ouço que os polícias ficam em mais lençóis sob ponto de vista jurídico quando, no exercício legítimo da sua profissão, têm o infortúnio de atingir mortalmente um qualquer suspeito em fuga às forças da lei, por mais violento que este seja. Tenho para mim que qualquer cidadão que fuja à lei está a incorrer num gesto grave e quando este, depois de longas e perigosas perseguições policiais, ainda resiste, terá de ter consciência de que poderá ser alvo de formas mais contundentes de actuação, como terá acontecido em Matosinhos e na Maia.
Note-se que, vezes sem conta, estas situações acabam com a morte dos agentes.
O senso comum diz e eu subscrevo que, “pelo andar da carruagem”, os polícias sentir-se-ão cada vez mais inibidos em actuar em operações extremas, pois trazem no seu subconsciente que se as coisas correrem menos bem, isto é, se alvejarem mortalmente um criminoso em fuga, poderão, na pior das hipóteses, ir parar à cadeia por homicídio. A sociedade deve, sem paliativos, manifestar a sua solidariedade para com o esforço destes homens e mulheres que vestem fardas e têm a árdua e arriscada missão de defender a lei e a ordem. A sociedade não deve ser a primeira a apontar-lhes o dedo quando as coisas correm menos bem.
Este é um equilíbrio difícil. Num Estado de direito como o nosso exige-se às forças da ordem cuidados redobrados quando abordam as situações mais extremas, só recorrendo aos métodos operacionais mais duros em último recurso, procurando salvaguardar sempre os direitos inalienáveis dos suspeitos. Mas, convenhamos, haverá situações em que se rompe esse frágil equilíbrio, sobretudo quando os agentes da ordem são confrontados com suspeitos perigosos, cuja actuação delituosa põe em causa a segurança pública. Cabe aos agentes ter o “sangre frio” necessário para lidar com a situação, medindo o método mais adequada de agir, em conformidade com as normas legais de actuação das forças da ordem. Concluo, por conseguinte, que nunca como hoje a formação dos polícias é importante. Estes devem estar física e psicologicamente habilitados a lidar com situações extremas.

domingo, 8 de outubro de 2006

> DESNORTE NA ASSEMBLEIA MUNICIPAL


A última sessão da Assembleia Municipal de Amarante revelou-se a antítese do que seria suposto encarnar o protótipo de funcionamento deste órgão autárquico em Amarante.
Foi na abordagem da postura de trânsito que assiste a uma das mais confusas assembleias municipais. Em mais de 10 anos de jornalismo nunca vira nada assim. Tanta confusão, tanta desorientação, tanta falta de preparação.
A questão até nem era assim tão complexa. Tratava-se apenas de votar uma nova postura de trânsito que tinha sido aprovada pela Câmara, enquanto órgão colegial onde têm assento sete elementos: três do PS, dois do Amar Amarante e outros tantos do PSD. Pelo que percebi no decurso da famigerada assembleia municipal, muitos deputados estavam confusos, ao não perceberem como era possível votar uma matéria emanada da Câmara, cujo sentido geral era contrário à vontade do presidente da edilidade e dos seus dois vereadores. A confusão foi tal que até o presidente da mesa, Celso Freitas, homem de direito, protagonizou um momento estranho quando confessou perante o hemiciclo e o próprio presidente da Câmara que não sabia o que efectivamente se ia votar. Por momentos foi possível observar sucessivas trocas de sinalética entre a bancada que PS e os membros do executivo, espantados com a desorientação da mesa da assembleia, cujos três elementos também denotavam falta de sintonia.
Foi uma confusão perfeitamente dispensável. Este desnorte evidencia, na minha óptica, falta de acompanhamento de muitos deputados daquilo que vão produzindo as reuniões de Câmara. Se tivessem estado mais atentos, como era sua obrigação enquanto eleitos municipais, à reunião do executivo que aprovou a postura, quanto mais não seja através dos relatos dos jornais, com certeza que aquela confusão não teria ocorrido, poupando-se assim horas preciosas nas vidas de todos, que acabaram por comprometer o discernimento para a discussão de outras importantes matérias que se seguiam na ordem de trabalhos.
Ainda sobre este assunto, não percebo por que não foram realizadas reuniões preparatórias, envolvendo as lideranças dos grupos parlamentares, promovidas pelo presidente da assembleia. Teria sido uma boa oportunidade de se esclarecer cabalmente o que estava sobre a mesa da discussão, além de permitir aos líderes das forças representadas na AM analisar e acordar previamente as metodologias de discussão da matéria.
Não menos censurável, foi aquilo que se passou aquando da votação das alterações à postura de trânsito apresentadas pelo PS. O PSD e o Amar Amarante, forças que tinham imposto, de forma legítima, a sua vontade quando a matéria foi votada na Câmara, não aceitavam na Assembleia Municipal que a postura fosse alterada em algumas alíneas, por uma maioria socialista na AM, que tem rigorosamente a mesma legitimidade democrática que a maioria formada pelos dois partidos da oposição no executivo. Alegaram supostas ilegalidades, brandindo a bandeira de que a AM não podia alterar uma postura aprovada pela CM, argumento prontamente contestado pela maioria socialista, que disse, e bem, não querer abdicar das competências da Assembleia Municipal, inclusive a de alterar a matéria em apreço.
Incomodados com as alterações impostas pelo PS, representantes do PSD e Amar Amarante, na AM chamados “Amarante com Ferreira Torres”, decidiram abandonar a sala no momento da votação. Foi um gesto nada bonito, que denota incapacidade de aceitação das regras do jogo democrático, assente na representatividade que cada força tem nos diferentes órgãos do poder local amarantino, que são independentes entre si, tendo apenas em comum a legitimidade que lhes advém do voto popular.
Se do lado AFT, aquela atitude acaba por não surpreender, conhecendo o histórico de actuações caracterizado por algum fundamentalismo oposicionista, já causou maior estranheza a atitude dos eleitos do PSD. Estes costumam pautar a sua actuação com linhas mais equilibradas, próprias de um partido com responsabilidades no sistema político português, em geral, e amarantino, em particular. Ao abandonarem a votação, não fizeram jus a este princípio, alinhando numa onda iminentemente populista e demagógica, para mim meramente virtual, imaginando que aquela atitude pudesse agradar a um maior número de amarantinos partidários da abertura ao trânsito do centro da cidade.
Ainda bem que o bom senso prevaleceu e Amarante vai continuar a ter a sua mais nobre e bela praça livre de carros.

sábado, 30 de setembro de 2006

> TAXAS MODERADORAS

O senhor ministro da Saúde anda, há meses, numa cruzada em busca da redução quase obsessiva de despesas do seu ministério.
Os recentes anúncios de encerramento de maternidades e serviços de urgência, independentemente das aduzidas e supostamente benevolentes justificações de foro clínico e técnico, visam sobretudo, todos o sabemos, reduzir despesas, concentrando serviços nas maiores cidades.
Quem vive no interior vai assumindo, involuntariamente, cada vez mais, o estatuto de cidadãos de segunda. O interior vai perdendo gente e a qualidade de vida nas grandes cidades vai-se tornando cada vez mais insustentável - veja-se o que aconteceu noutros países da Europa onde este tipo de medidas foram adoptadas há alguns anos.
Estou cada vez mais convencido que, não faltarão muitos anos, o nosso país vai pagar bem caro estas medidas tecnocratas, que estão a acentuar as assimetrias num país onde tradicionalmente o fosso entre ricos e pobres e litoral e interior é gritante.
Falta saber se não vai ser demasiado tarde para tentar o retorno.
Mas a última medida do senhor ministro é absolutamente inadmissível: isto de obrigar quem tem de ser operado a pagar uma taxa moderadora não cabe na cabeça de ninguém, como se qualquer um de nós tivesse algum prazer em ser operado.
Haja contenção e bom senso senhor ministro.

segunda-feira, 18 de setembro de 2006

> PARTIU O MEU AMIGO JOSÉ SANTOS


No passado sábado realizou-se o funeral do nosso camarada de profissão, o amarantino José Santos, que contava 71 anos de idade.
Estive lá em sinal de homenagem.

Foi com profunda consternação que soube da morte do decano dos jornalistas da região, que ficou assim órfã de um grande senhor.

A ele muito lhe devo, como referência e exemplo de verticalidade, mas, sobretudo, de enormes simplicidade, humildade e generosidade.

Antigo jornalista do Jornal de Notícias e de O Comércio do Porto, foi o percursor de vários projectos jornalísticos regionais (rádios e jornais), em especial em Amarante e em Fafe.

Qual mestre, era um homem que me ensinava a profissão de forma honesta, transmitindo-me tudo o que sabia, numa manifestação de desprendimento que não conhecemos em mais nenhum colega de profissão.

Foi o José Santos que um dia, já lá vão mais do que 15 anos, na sua 4L azul me conduziu ao Porto e me matriculou no curso de jornalismo. Lembro-me das suas palavras de incentivo. Foi ele que um dia acreditou em mim.

Também não esqueço o abraço forte e quente com o qual José Santos tentava reconfortar a minha dor no funeral do meu saudoso pai.

O programa de rádio que tive em Fafe, intitulado "Última Página" foi desenhado por ele. O José Santos queria assim ajudar-me a superar a morte do meu pai...

José Santos partiu. Deixa em mim um profundo vazio e uma saudade do tamanho do seu sorriso sempre pronto e amigo.

Bem haja pelo muito de bom que me fez.

Obrigado por tudo grande amigo José Santos.

Para sempre grato,

Armindo Mendes

> MINISTRO VIAJAVA A MAIS DE 200 Km/h NA A1

As televisões noticiaram recentemente que um automóvel onde seguia um ministro foi “apanhado” na auto-estrada quando circulava a mais de 200 quilómetros horários.
Segundo rezam as crónicas jornalísticas, o motorista foi interceptado pelas autoridades, mas quando estas observaram que no interior do veículo seguia um ministro mandaram seguir, sem sequer identificar o condutor e aplicar a respectiva multa.
Em simultâneo outros automobilistas tinham sido também apanhados pela mesma patrulha, que foi implacável, e bem, na aplicação da lei, sendo autuados.
Ora, não é admissível aquilo que se passou, o regime de impunidade do motorista do senhor ministro, numa flagrantíssima situação de discriminação positiva para quem seguia a uma velocidade perigosíssima, que punha em causa a segurança dos demais utentes na via.
A lei diz que permite a violação de determinadas regras do Código da Estrada às viaturas que seguem em serviço público, algo de tal forma vago que tem permitido a muitas figuras da nossa política usarem e abusarem dessa figura, que devia, em minha opinião, ser utilizada por ambulâncias, carros de bombeiros ou veículos de autoridades policiais.
Mais uma vez se afere, com base neste triste exemplo, que a lei, afinal, não é aplicada pela mesma bitola de interpretação a todos os cidadãos portugueses, havendo uns que gozam de inadmissíveis privilégios.
Quando tal se passa com políticos é ainda mais grave, porquanto são figuras públicas e deviam constituir o primeiro exemplo de cumprimento escrupuloso das regras que sustentam o edifício democrático. Depois ficam muito admirados quando o prestígio dos políticos junto do “Zé-povinho” está pela “rua das amarguras”.

segunda-feira, 11 de setembro de 2006

> EMIGRANTES DE SEGUNDA E TERCEIRA GERAÇÕES

Terminou mais um mês de Agosto, o mês aproveitado pela maioria dos portugueses para gozar as suas férias. Para muitos será o regresso ao trabalho e às dificuldades de um dia a dia cada vez mais complicado e de futuro incerto. A crise económica mantém-se, com um custo de vida em crescendo.

Há dias, à saída de um supermercado, ouvia alguém comentar, em universo familiar, como o dinheiro tem emagrecido nos últimos anos. Um determinado montante, há três ou quatro anos, permitia uma vida relativamente desafogada e até propiciadora de economias. Hoje, o mesmo valor já não dá azo a grandes extravagâncias. Há que redobrar os cuidados, cortar algumas despesas supérfluas e esperar que as coisas melhorem.

Agosto é também o mês do regresso maciço dos nossos emigrantes, um momento que vai perdendo a emoção de outros tempos, simplesmente porque os emigrantes que mais emoção emprestavam ao momento, os que emigraram nas décadas de 60 ou 70, já estão quase todos radicados definitivamente neste Portugal. Quando era criança assistia ao regresso de alguns emigrantes familiares. Percebia a importância e o lado quase dramático do momento, tantos eram os beijos e os abraços. Seguiam-se longas refeições com pratos bem portugueses acompanhados dos melhores tintos e brancos da nossa terra.

Os que vão regressando hoje são já as segunda ou terceira gerações de emigrantes, filhos ou netos dos pioneiros de tiveram de comer o pão que o diabo amassou para singrar lá fora. Estas gerações que vêm hoje a Portugal, constituídas por luso-franceses já nascidos em terras gaulesas, fazem-no quase sempre de forma algo desprendida, porque, ao contrário dos pais, não estão agarrados a este país por um cordão umbilical. Vêm cá uma ou duas vezes por ano e pouco mais. Quando chegam, as cenas do passado não se reproduzem nos mais novos.

São a maioria jovens que chegam eufóricos e vestidos de forma extravagante, influenciados pelas modas de Paris. Falam quase todos um “fraçuguês” cacofónico. É pena que estas gerações de emigrantes não queiram ou não possam aprender a língua dos seus pais. A mim causa-me especial tristeza ver casais jovens com crianças pequenas, com os quais falam em francês, ouvi há dias numa esplanada no largo de S. Gonçalo. Nem sequer fazem o esforço de, pelo menos em Portugal, tentar ensinar às crianças a língua dos seus avós, afinal uma coisa matricial de um povo – a língua pátria. Seria assim tão difícil ensinar-lhes a dizer água ou leite?

Bem sei que as coisas não são fáceis e nem sempre há em terras de França escolas de português onde as crianças possam aprender, dificultando a tarefa dos pais. Mas essa é apenas uma parte da questão. A outra decorre da vontade de cada um. Dou sempre exemplo: conheço um casal de emigrantes de primeira geração que sempre obrigou os filhos a falarem português em casa. Estes são hoje homens e pais, que obrigam os filhos a falar português em casa. São pessoas integradas na sociedade francesa, mas mantêm com orgulho os poucos laços que os ainda une à terra dos seus pais ou avós, a língua, que falam de forma emotiva, apesar dificuldades já perceptíveis nos netos.

quinta-feira, 7 de setembro de 2006

> "IMPORTANTES" ESTACIONAM DE QUALQUER MANEIRA EM FELGUEIRAS


Tenho notado que algumas figuras ditas importantes de Felgueiras, proprietárias de veículos de alta gama, estacionam por vezes em locais inapropriados, como em segunda fila, em paragens de autocarro, em cima dos passeios, ou à frente de outros veículos estacionados correctamente, impedindo a saída destes, etç ...

Pensarão essas pessoas "abonadas" que são mais importantes do que os demais felgueirenses?
Será que as leiS que regulam o estacionamento não são iguais para todos os felgueirenses?

Era bom que a nossa Polícia Municipal e a GNR estivessem mais atentas ao que se passa, por exemplo, na Av. Dr. Leonardo Coimbra ou rua rua Agostinho Ribeiro, para já não falar de outras artérias da nossa cidade.

domingo, 3 de setembro de 2006

> HAMBURGERS COM KETCHUP


Passei há dias, à hora do jantar, junto de um restaurante de fast food num conhecido centro comercial da cidade do Porto. Fiquei estupefacto com a aglomeração de pessoas que se acotovelavam para conseguir um hamburger com batata frita. Pensei com os meus botões: aquilo deve ser de uma autêntica iguaria, caso contrário as pessoas não tinham aquele comportamento. Admito que há uns meses provei aquela especialidade, simplesmente porque na hora e no local em que o fiz era praticamente o único “restaurante” aberto.
Sinceramente não gostei, daí não perceber esta paixão mundial pelos hamburgers daquela cadeia internacional, acompanhados por umas batatas fritas de ar artificial e ketchup. Ah! Já me ia esquecendo dos bonecos que oferecem às crianças.
Acho até que comer uma daquelas especialidades será para muitos milhões em todo o mundo, sobretudo para os mais novos, mais um hábito enraizado de uma sociedade de consumo cada vez mais vulgar, que acha muito bonito vestir calças rotas e de aspecto sujo, beber cocktails até cair para o lado ou escrever SMS de forma compulsiva, numa linguagem que ofende quem preza a língua de Camões. Gostos não se discutem, é certo, e eles até serão a maioria.
Mas deixem-me dizer que prefiro a cozinha tradicional portuguesa, beber de forma moderada um bom vinho português, usar umas calças sem rasgos e escrever com as letras e os acentos todos. É da idade, dirão alguns…

> ACABAR COM ALGUNS PRIVILÉGIOS INJUSTOS

O ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, reafirmou que a nova tabela do regime convencionado ADSE, que aumenta os custos com a saúde para os funcionários públicos, é insubstituível. Aí está, portanto, mais uma medida deste governo que penaliza os funcionários públicos.
Os sindicatos da função pública, como foi amplamente noticiado, calculam que os preços de alguns serviços de saúde tenham sofrido aumentos de quatro mil por cento. Ora, ouvindo aquilo que dizem estes sindicatos poderemos ser todos levados a concluir que o governo perdeu a noção do razoável. Mas será efectivamente assim? Andará o Executivo, com estes aumentos assim tão bruto? Mesmo não sendo um especialista na matéria, quero crer que não.
O que se passava, de facto, é que os funcionários públicos pagavam, na maioria dos casos, valores quase irrisórios pelos seus exames clínicos, se comparados com os suportados pelos restantes utentes do Serviço Nacional de Saúde.
Concluo, assim, que se trata de mais uma medida que procura reequilibrar os sistemas. Bem sei que para quem perde regalias é muito desagradável, mas há que perceber que, sobretudo num período de “vacas magras” como este, todos os portugueses devem ser tratados de forma igual. Melhor seria se a tentativa de harmonizar os sistemas fosse feita de forma inversa, isto é, os utentes com menores regalias sociais, geralmente os que trabalham na actividade privada, passassem a usufruir das vantagens dos cidadãos empregados do Estado.
Infelizmente, tal não é possível e há que compreender o sentido de equilíbrio que esta decisão do governo pretende conferir.

quarta-feira, 23 de agosto de 2006

> O FASCÍNIO DO COMBOIO


A recente visita a Amarante de dirigentes de “Os Verdes” para defender a Linha do Tâmega recolocou na agenda actual este importante dossier.
Faço parte daquele grupo de portugueses que têm um carinho especial pelo caminho de ferro. Muitos amarantinos, de todas as idades, cresceram habituados a ver passar o comboio, um meio de transporte outrora importante na economia da região, mas também algo que criava em cada criança um certo misticismo.

Quem de nós, na tenra infância, não sonhava com a primeira viagem de comboio? Quem de nós não teve um dia como brinquedo uma velha máquina a vapor que nos fazia lembrar os filmes de cowboys que passavam na TV ainda a preto e branco?
Ainda hoje quando vejo passar o comboio, sobretudo as grandes composições que ainda atravessam o país, sinto uma emoção especial. O meu filho, um menino de cinco anos, curiosamente herdeiro de velhos hábitos do seu progenitor, não se cansa de me pedir para o levar a ver os comboios. Procuro corresponder e até já lhe proporcionei o seu baptismo de viajante em caminho de ferro, além de uma visita a um museu ferroviário, em Lousado, Famalicão, dois momentos vividos com enorme intensidade pelo pai e pelo filho, que jamais haveremos ambos de esquecer.
Infelizmente, para muitas crianças, principalmente as que moram em localidades onde já não passam comboios, esse meio de transporte não passa já de algo a que só acedem por via da TV ou do cinema.

Há décadas que o comboio foi perdendo importância, sobretudo à medida que foi sendo ultrapassado pelo automóvel e pelo autocarro. Muitos dirão que se tratou de uma evolução natural que conduziu o caminho-de-ferro à extinção em várias regiões do país.
Eu tenho uma opinião diferente. Penso que a decadência do comboio em Portugal se explica não só por razões de concorrência do automóvel, mas também devido ao desinvestimento crónico de que foi padecendo o caminho-de-ferro no nosso país.

Enquanto o Estado investia e bem na modernização da rede viária, um pouco por todo o território, o mesmo não se passava com as linhas-férreas e outras infra-estruturas de apoio, que durante décadas se mantiveram inalteráveis. Enquanto as estradas se foram tornando menos sinuosas, mais largas e com melhor piso, correspondendo ao número crescente de automóveis, a maioria das linhas preservavam as mesmas características, completamente obsoletas. Os traçados anacrónicos, como se vê no caso da Linha do Tâmega, são os mesmos do início do século passado, sinuosos, lentos e desconfortáveis. O material circulante manteve-se durante anos a fio, não acompanhando a evolução tecnológica que se foi fazendo também neste meio de transporte. As estações e apeadeiros também pararam no tempo. As viagens de comboio, que há cerca de um século eram rápidas e confortáveis se comparadas com as viagens feitas com automóveis ou camionetas de passageiros por esburacadas e serpenteantes estradas da época, tornaram-se demasiado lentas.
O comboio em Portugal, com excepção das áreas metropolitanas, não acompanhou a evolução e começou a definhar. As pessoas começaram a preferir as viagens em autocarros mais modernos e confortáveis, que percorriam as novas estradas, que entretanto foram sendo construídas. E o comboio foi morrendo aos poucos. Sem passageiros, o seu fim era inevitável, como ocorreu com o bonito troço da Linha do Tâmega entre Amarante e Arco de Baúlhe.
De Amarante à Livração ainda circula uma automotora, quase sempre com um número de passageiros insuficiente que justifique a sua existência. Fala-se que a CP quer acabar com essa ligação, o que se compreende devido à sua reduzida utilização.

Coloca-se hoje a questão de se justificar ou não criar condições para que a linha se mantenha em funcionamento, o que poderá ocorrer, eventualmente, se as câmaras de Amarante e Marco de Canaveses se interessarem pelo projecto, procurando potenciá-lo sob ponto de vista turístico. Seria interessante se tal viesse a ocorrer, mas receio que essa possibilidade não passe do papel, atendendo ao forte investimento que as duas autarquias poderiam ser obrigadas a suportar. Talvez uma parceria público-privada com investidores turísticos pudesse ajudar.
Quanto ao troço até Arco de Baúlhe, desactivado há muitos anos, que alguns, poucos, ainda acreditam poder um dia ser reactivado, creio que só a utopia, embora bem intencionada, poderá suportar tal pretensão. A única utilização se que vislumbraria para o troço seria de âmbito turístico, mas mesmo essa obrigaria a um enorme investimento para garantir as condições de circulação, atendendo à degradação quase completa da velha linha. Quanto à utilização comercial, essa estaria comprometida ao fracasso. Na zona de Basto vive cada vez menos gente e a que resta está hoje servida de estradas que lhe garantem um acesso mais rápido a Amarante e a outras cidades próximas.

sexta-feira, 18 de agosto de 2006

> A ANGÚSTIA DOS FOGOS

A angústia. O ministro da Administração Interna, António Costa, reconheceu no domingo as dificuldades do esquema de prevenção dos incêndios.
Estas declarações do governante, proferidas horas depois de terem sido anunciados os números negros dos incêndios do passado fim-de-semana, acabam por surpreender, sobretudo porque vieram de alguém que tem procurado transmitir para a opinião pública uma imagem de dinamismo e eficácia.
Não se interprete esta minha introdução como uma crítica à actuação do ministro na questão dos incêndios, a qual continuo a achar ser bem mais eficiente do que a de outros governantes no passado recente. António Costa é um ministro competente. É um homem rigoroso e exigente. Acontece, porém, que a questão dos incêndios não se resolve num ano, como se tem comprovado, apesar dos enormes progressos conseguidos recentemente, sobretudo ao nível do combate e da primeira intervenção. Pelo que me têm dito pessoas conhecedoras na área do combate aos fogos, os meios este ano estão mais coordenados e isso traduz-se numa mais rápida e eficaz intervenção, evitando que os fogos atinjam maiores proporções. Em Amarante essa tendência tem-se confirmado, como se observou no passado fim-de-semana, com centenas de bombeiros mobilizados no terreno.
Mas este esforço não é suficiente. Aqui como no resto do país, falta melhorar a componente da prevenção, justamente aquela que mais eficaz se pode tornar para obviar ao risco de incêndio sempre subjacente às cada vez mais altas temperaturas que se fazem sentir à passagem de cada Verão.
O ministro alertou, em bem, para o longo caminho a percorrer na limpeza das nossas florestas e para a falta de ordenamento florestal, que tantas vezes propicia a construção de habitações no meio das matas.
Mas António Costa também sabe que o problema é mais complexo. Não é preciso ser-se sociólogo ou economista para se perceber porque ardem hoje mais floresta do que no passado. O problema tem a ver com o modelo de desenvolvimento que o país adoptou há algumas décadas, que conduziu à desertificação do interior, onde ardem as maiores áreas de floresta. Não havendo ali gente a morar, não há quem cuide da manutenção das matas. Antigamente havia gente nas aldeias. Essas pessoas zelavam pela limpeza dos montes, porque dali tiravam o seu sustento. Dali tiravam a lenha para as suas lareiras e dali também tiravam os matos para melhor aconchegarem o seu gado, que dormia nas lojas das suas casas.
As pessoas habitavam no interior e eram elas, tantas vezes, as primeiras a mobilizar-se numa primeira intervenção. Hoje, no interior não mora quase ninguém. Ali ficaram apenas os velhos, que vêem agora as suas casas a serem engolidas pelas chamas.
As sucessivas medidas para esvaziar o interior de serviços públicos só estão a contribuir para acentuar a desertificação. As pessoas não querem morar onde não haja serviços de saúde qualidade com o mínimo de qualidade. Não querem morar onde os seus filhos têm de percorrer dezenas de quilómetros para frequentar a escola.
O combate aos fogos também se faz através do combate à desertificação. E aí, as políticas globais deste e de outros governos não estão isentos de responsabilidades.
Pouco significado terão um super ministro, de reconhecidas qualidades, e os muitos milhões de euros que todos os anos se gasta no combate musculado aos fogos.
A defesa da nossa floresta também se faz aumentando a fiscalização, colocando as forças policiais e os militares a patrulhar as zonas de maior risco. Mas também se impõe a punição exemplar dos que deitam fogo às nossas matas e o reforço do investimento em equipas de vigilância e de primeira intervenção.
O diagnóstico está feito há muito. As soluções também são consensualmente aceites e algumas já estarão em marcha. Tardam os resultados.

segunda-feira, 7 de agosto de 2006

> AMARANTE É CULTURA


A cidade e o concelho de Amarante distinguem-se pela positiva dos demais concelhos da região, quando se faz uma avaliação das actividades desenvolvidas por estas paragens.
Apesar da subjectividade desta afirmação, obviamente passível de contestação por outrem, assumo de forma convicta esta minha avaliação, fundada em dados objectivos que mais à frente comentarei.
Penso, por vezes, que muitos amarantinos não se dão conta da riqueza cultural da terra onde vivem ou nasceram.
Muitos saberão que esta é a terra de Pascoaes e Amadeo, mas outros, menos zelosos, apressar-se-ão a dizer que essas são figuras do passado e que agora, como já ouvi dizer algures, Amarante parou no tempo e já não terá o encanto de outras épocas.
Fico triste quando ouço essas afirmações... Amarante, no todo social, cultural e monumental, não merece isso.
Se é certo que nem tudo estará bem, devem os amarantinos atentar naquilo que os distingue na região. Não tenhamos vergonha de nos compararmos com terras mais ou menos próximas. Façamo-lo de peito aberto, na certeza de que não ficaremos mal na fotografia.
Haverá cidades por estas paragens, de idêntica dimensão, com tanta riqueza cultural? Tenho a certeza que não. Ora vejamos alguns indicadores que sustentarão esta minha afirmação. Que cidades próximas têm um grupo de teatro com a qualidade do T’Amaranto? Certamente poucas terão esse privilégio. Mas se ao teatro acrescentarmos a Orquestra do Norte, aqui sedeada e que abundantemente nos brinda com magníficos concertos? Esta é a única orquestra regional em toda a região e trabalha diariamente em Amarante, com executantes do que de melhor há no nosso país. E qual é a cidade da região que tem um museu como o nosso, recheado de um espólio tão rico e variado? Qual é a cidade da região que organiza concursos literários e de pintura como os dedicados a Teixeira de Pascoaes e Amadeo Souza-Cardoso, respectivamente? E já agora, qual é a cidade que tem uma biblioteca municipal a funcionar num antigo convento objecto de uma recuperação arquitectónica notável. Ou ainda, que terra próxima tem uma casa da cultura também albergada num antigo edifício recuperado com mestria e bom gosto?
Poderíamos aqui continuar a enunciar situações que afirmam Amarante como terra de cultura, também muito grata ao labor de associações de maior ou menor dimensão que promovem actividades culturais mais ou menos eruditas, com maior ou menor pendor tradicional. Estou a lembrar-me das duas bandas de música, de vários agrupamentos folclóricos, escolas de música, de dança e de outras artes. Ou ainda, porque o nosso passado também é cultura, que cidade das redondezas tem uma praça tão monumental e tão bem arranjada como a nossa, frente à Igreja de S. Gonçalo, paredes meias com uma ponte de rude granito, mas quase tão bela como o Tâmega que sob si serpenteia.
Então e as nossas festas de S. Gonçalo, tão apreciadas pelos forasteiros e tão fiéis às tradições dos nossos ancestrais, também não são cultura, a cultura genuína de um povo humilde e trabalhador? E passear nas margens do Tâmega, numa noite de Verão, enquanto conversamos com um amigo, degustamos um doce conventual e olhamos o Covelo, também não é cultura? Haverá nas redondezas um rio, ora rebelde, ora dócil, que esventra uma cidade em granito?
Alguns estarão a ler este escrito e achá-lo-ão até algo piroso, por estar, num bairrismo exacerbado, a idolatrar a terra de Amarante. Não me incomodam esses impropérios. Fico mais indignado quando ouço amarantinos a dizer mal da sua terra, só porque, pontualmente, não gostarão deste ou daquele político, desta ou daquela decisão, ou porque acham que a construção desenfreada em cimento armado, tão cara a cidades próximas, é sinónimo de desenvolvimento.
Bem sei que nem tudo está bem e que haverá aspectos a melhorar. Por exemplo, falta uma verdadeira sala de espectáculos.
Mas a insatisfação sadia é mote para, fazendo das fraquezas forças, potenciarmos esta Amarante tão rica.
Gosto de Amarante assim. É muito bela esta cidade com as suas ruas antigas estreitas e íngremes, este concelho plantado no sopé do Marão imponente.
Bem-haja aos que procuram, a cada dia, melhorar Amarante, promovendo acções que acariciam a alma da Princesa do Tâmega. Sim, as diferentes formas de cultura são um bálsamo para a alma dos mortais.
Façam, não vacilem. Apesar dos recursos serem parcos, continuem a dar-nos teatro, música de qualidade, ópera, exposições, animação de rua, concertos com artistas de qualidade, despiques de bombos, arruados de filarmónicas, cortejos etnográficos e muito, muito mais…
Dêem-nos condições para Amarante continuar a ser igual a si própria, honrando os vultos do passado, uma terra que se orgulha de ser especial.

domingo, 30 de julho de 2006

> O ERRO DE ISRAEL

O mundo assiste há semanas a mais uma guerra em directo pela televisão.
Mais uma vez é no Médio Oriente que ecoa o rosnar dos canhões e mísseis que matam diariamente dezenas de inocentes. Quando vejo crianças vítimas da guerra o meu coração estremece. Por vezes, prefiro desligar a televisão…
Os beligerantes - o Estado de Israel e o grupo extremista xiita Hezbollah - violam constantemente os direitos humanos, procurando fazer valer, pela força das armas, visões diametralmente opostas do mesmo problema.
Desta vez foi o rapto de um militar Israelita que rastilhou uma onda de violência sem fim à vista.
A questão do Médio Oriente é antiga e complexa, entroncando sobretudo em diferenças religiosas profundas, porque de ambos os lados – Judeu e Islâmico – vão prevalecendo as visões mais fundamentalistas.
Não vamos escalpelizar aqui como tudo começou, porque se o fizéssemos teríamos de recuar uns dois mil anos, ou talvez mais.
Numa visão, que admito ser demasiado simplista, a questão reside no facto de a população árabe não aceitar o Estado de Israel, cuja formação, nos anos 40, foi traçada a régua e esquadro, sem acautelar uma visão geoestratégica daquela complexa zona do globo.
O povo judeu, que respeito e admiro, tem direito a defender-se dos sucessivos actos terroristas perpetrados por grupos organizados como o Hezbollah e o Hamas, que matam israelitas inocentes.
Só que, como estado democrático que é suposto respeitar os direitos humanos, Israel fá-lo quase sempre de forma desproporcionada, como se tem visto na Palestina e no Sul do Líbano, deitando mãos a um poderio militar inusitado, sempre com o apoio dos Estados Unidos.
Não se admite que um Estado (Israel) ouse invadir outro, igualmente soberano (Líbano), supostamente para combater um grupo terrorista, e destrua importantes infra-estruturas desse país, que, em primeiríssima instância, só prejudicará a população civil inocente, hoje a braços com uma crise humanitária. Mais grave ainda, é a possibilidade desta intervenção poder desencadear a intervenção de outras potências regionais.
Muitos são na Europa, grupo onde me incluo, que defendem um caminho diferente para a resolução do problema. É pela via diplomática que se deve caminhar, simplesmente porque a intervenção militar, como se vê no Iraque, só gera violência e acentua ódios, fertilizando condições para o recrudescimento de organizações terroristas islâmicas um pouco por todo o mundo que se rege pelo Alcorão.
Será que Israel acredita que vai conseguir eliminar o Hezbollah com esta intervenção militar e assegurar a sua segurança interna? Se o faz estará a incorrer num erro estratégico profundo, tão grave quanto a invasão do Iraque perpetrada pelos Estados Unidos e pelo Reino Unido, que só veio acicatar ódios religiosos e étnicos, descambando numa espiral de violência inédita naquele país.
No Líbano, como recorrentemente ocorre na Palestina, os bombardeamentos e os carros de combate matam inocentes e fragilizam uma sociedade encrostada de assimetrias sociais que se vão acentuar. O número de pobres vai crescer e estes constituirão alvo fácil para o recrutamento de organizações terroristas, incluindo fundamentalistas da Al-Qaeda, que explorarão os sentimentos de revolta entre os povos islâmicos.
Ao mesmo tempo fragilizou-se de forma profunda a jovem democracia libanesa, que terá dificuldades acrescidas para combater o terrorismo que grassa no seu próprio território. Não nos admiremos se o Hezbollah ganhar as próximas eleições naquele país, como aconteceu com o Hamas na Palestina. Depois, no mundo ocidental, vamos ficar todos espantados com o resultado e apressamo-nos a não dialogar com um governo controlado por uma organização extremista, mas ratificado pelo sufrágio popular? Como é que se vai sair disto? O que se passa na Palestina, onde falta, na óptica ocidental, um interlocutor válido, não era já um sinal preocupante?
Já é tempo de, após tantos erros cometidos, a comunidade internacional, sobretudo esta administração norte-americana e seus aliados britânicos, perceberem que os problemas naquela região não se resolvem pela via militar. Tanto mais que, a jusante, até ao Estados Unidos, internamente, poderão ser vítimas destas políticas, sabido que é o ódio que várias organizações terroristas espalhadas pelo um islâmico nutrem por aquela super potência, que consideram ser a principal aliada de Israel.
Desta crise internacional ressalta ainda a fragilidade da política externa da União Europeia. Mais uma vez, os europeus não têm sido capazes de ter uma só voz, dando uma imagem de fragilidade ao mundo, que enfraquece a sua força negocial e capacidade de influência neste e noutros conflitos.

terça-feira, 11 de julho de 2006

> SELECÇÃO - "No melhor pano cai a nódoa"

Será verdade?

Ouvi há instantes numa estação de rádio que a Federação Portuguesa de Futebol ponderava pedir isenção de IRS para os prémios dos jogadores relativos à participação na Campeonato do Mundo de Futebol na Alemanha.

O povo diz que, às vezes, “no melhor pano cai a nódoa”. É exactamente isto que se está a passar com esta patetice de pedir isenção de pagamento de impostos, logo numa altura em que o gastador Estado pede sacrifícios aos comuns dos mortais.

Depois de uma prestação muito meritória num campeonato que encheu todos os portugueses de orgulho, vêm agora os jogadores, por intermédio da FPF, pedir algo moralmente inadmissível.

Coitados das nossas "estrelas". Devem viver com dificuldades e os prémios chorudos que angariaram na Germânia devem ser fundamentais para fazer face a despesas de primeira necessidade…

Pensarão eles que os feitos desportivos na Alemanha lhes atribuirá o título de cidadãos de primeira, quase comparáveis a uma espécie de instituição de utilidade pública.
Então e os outros campeões europeus e mundiais deste país também têm isenção do IRS?

Será que o orgulho nacional que tanto invocavam os nossos valoroso craques no fim dos jogos e que tanto nos comovia não era assim tão profundo? Face a esta atitude, de um materialismo inusitado, começo a ficar desconfiado com tanto amor pátrio.

Só espero que o nosso Governo, sempre tão implacável para com os contribuintes ditos normais, não cometa agora o erro de sucumbir a um pedido inadmissível, que me apetece adjectivar de forma ainda mais dura.

segunda-feira, 10 de julho de 2006

> EDITORIAL DE "O JORNAL DE AMARANTE", de 6 de Julho

Amarante perdeu!
A reunião do ministro da Saúde com o presidente da Câmara acabou por ditar aquilo que já se esperava: a “morte” anunciada da maternidade de Amarante.Correia de Campos foi intransigente na questão, de nada valendo os protestos dos amarantinos.
O governante informou Armindo Abreu que as urgências médico-cirúrgicas vão manter-se abertas entre as 8h00 e as 22h00 e que o hospital vai perder a sua autonomia, passando a funcionar de forma articulada com o de Penafiel. Foi também prometido que um estudo em curso à reorganização funcional do Hospital de Amarante poderá conduzir à realização de obras, potenciando a sua vocação para as cirurgias de ambulatório.
No meio de tantas promessas, apetece-me dizer que não há, de todo, razões para sorrir, tanto mais que a única garantia que há é a palavra do ministro, numa altura em que ser-se governante é algo cada vez mais efémero. Sobre a questão da maternidade, mantenho a opinião: acho que os nossos governantes andam a brincar com os nossos impostos. Como é possível gastar-se, há cerca de três anos, cerca de 700 mil euros para se renovar aquela valência e agora simplesmente decide-se fechá-la. Não sei de quem é a culpa, se dos responsáveis do anterior governo que decidiram fazer as obras sem analisar tecnicamente se a continuação da valência se justificava, se dos actuais governantes que, à revelia dos investimentos realizados, entenderam pôr termo à maternidade amarantina.
Como português que paga os seus impostos, sinto-me insultado com a flagrante falta de coerência nas políticas dos governos que se sucedem, que tantas vezes, de forma irresponsável, redunda em situações como esta. Quanto às urgências, mantenho que a decisão se justifica por exclusivas razões economicistas. É certo que, durante a noite, se estava a gastar muito dinheiro numa equipa de profissionais que atendia um número muito pequeno de doentes. Mas não menos certo, é que encaro esses encargos como custos sociais que a tutela tinha a obrigação de continuar a suportar, porque os poucos que ainda vivem nestas paragens do interior também têm direito a serviços de saúde que nos garantam alguma tranquilidade.
Sei que estas minhas palavras são uma espécie de “pregação aos peixes” numa sociedade cada vez mais resignada à frieza dos números. Eles, os poderosos da capital, não estão preocupados connosco, porque são atendidos com todos os cuidados, de preferência em clínicas privadas. Se vivessem em Rebordelo, em Salvador do Monte ou noutra qualquer freguesia “longínqua” teriam certamente uma opinião diferente, porque, confrontados com as estradas serpenteantes que por cá existem constatariam que a sua saúde e a da sua família poderia perigar com decisões políticas tão tecnocratas como as que têm vindo a ser tomadas.
Para um reformado idoso, oriundo das zonas mais afastadas do concelho, que se sinta indisposto a meio da noite, uma deslocação ao hospital de Penafiel poderá ser demasiado onerosa ou, nas situações mais graves, mesmo de ambulância, demasiado demorada, ao ponto de fazer perigar a sua vida. Já em relação aos anúncios de obras no hospital, apetece-me lembrar que “promessas leva-as o vento”. E as aragens daquelas bandas não são bonançosas.
Estou absolutamente descrente nesse cenário, porque irá contra a recorrente estratégia da tutela, que tem travado muitos investimentos que estavam prometidos em várias áreas. Receio que tenha sido apenas para calar os que por cá são mais crédulos nos ditames do statu quo.Há dias, um homem idoso, sentado à mesa do café, que ouvia na TV o anúncio do encerramento do Serviço de Atendimento Permanente de uma pequena vila do interior alentejano, comentava com o seu colega de mesa: “O melhor era entregar estas terras a Espanha e acabavam as dores cabeça dos tipos de Lisboa. Assim, quem quiser continuar português vai viver para o litoral, ou, por uma questão de masoquismo, fica na sua terra à espera de morrer”.
Este comentário, que tinha sido feito numa linguagem mais terra a terra do que a por mim aqui reproduzida, que incluía também alguns impropérios aos políticos, roça o exagero, mas não deixa de transparecer a sensibilidade popular de um povo lusitano de parca formação, mas suficientemente lúcido para perceber o que o rodeia.
Muitos idosos, estes de Amarante, também se manifestaram na vigília realizada na semana passada junto ao hospital. Viam-se lá muitas caras conhecidas, mas predominavam os ditos cidadãos anónimos, sobretudo os que, como o alentejano, têm dificuldades em aceitar que lhes seja retirado do hospital da sua terra um bem precioso: o direito à assistência na saúde.
O presidente da Câmara disse aos colegas de vereação que vai estar atento e pressionar o Ministério da Saúde no sentido de cumprir o prometido relativamente à reformulação do modelos funcional do hospital. Temos razões fortes para acreditar que Armindo Abreu terá uma legitimidade acrescida para o fazer, simplesmente porque a sua postura até hoje neste processo, nada dada a acções mais extremadas contra o despacho do ministro, deverá ser credora de uma acrescida capacidade de influência junto de Correia de Campos.
Armindo Mendes

sábado, 1 de julho de 2006

> CONCERTO DOS SANTOS E PECADORES (fotos: Armindo Mendes > direitos reservados)




> FELGUEIRAS MAIS PRÓXIMA DO PORTO EM AUTO-ESTRADA SEM PORTAGEM




Decorreu ontem à tarde, no limite dos concelhos de Paços de Ferreira e Lousada, a inauguração de mais um troço da A42 (antigo IC25).
Este troço liga em auto-estrada sem portagem a cidade de Paços de Ferreira à EN 106 (antigo nó de Ribas do IC 25). Faltam apenas poucos quilómetros para esta auto-estrada ligar com a A11, nas proximidades de Lousada.
Será então possível aos felgueirenses chegar ao nó de Lousada da A11 e virar em direcção à A41, que liga ao Porto, passando por Paços de Ferreira. A grande vantagem é que a A42 é uma SCUT, isto é, sem cuto para o utilizador, o que é optimo, tendo em conta os preços elevadíssimos praticados na A11 e na A4.
Face ao referido, foi pena que na cerimónia não tivessem estado presentes autarcas de Felgueiras, pontificando os presidentes de Paços, Lousada e Penafiel, além da governadora civil do Porto.

segunda-feira, 26 de junho de 2006

> AMARANTINOS EM VIGÍLIA PELO HOSPITAL DE S. GONÇALO




Centenas de amarantinos concentraram-se nesta noite junto ao Hospital, numa vigília de protesto contra o anunciado encerramento do maternidade daquela unidade de saúde, determinada pelo Governo.
Foi um momento marcado por uma enorme consternação e até de alguma revolta.


domingo, 18 de junho de 2006

> PORTUGUESES A BANHOS (Editorial de "O Jornal de Amarante", de 15 de Junho)

Os economistas dizem que o nosso país está a atravessar uma das piores crises de que há memória.

Atrevo-me a escrever (a seguir vou explicar porquê) que haverá muitos portugueses que sentem menos a crise do que outros. Vem isto a propósito de umas já habituais curtas férias que fiz no Algarve por esta altura do ano, onde, para grande surpresa, encontrei, desta vez, uma enorme legião de turistas portugueses, a maioria, pelo que percebi, originários da Grande Lisboa.

É impressionante a quantidade de portugueses daquela zona do país que por lá andavam, facilmente identificáveis pelas matrículas dos seus automóveis, quase rivalizando, em número, com os “tradicionais” ingleses e alemães que habitualmente escolhem o Algarve para gozar umas prolongadíssimas férias, aproveitando o custo de vida desta região do país, para eles irrisório, mas para a maioria dos lusos, incluindo eu próprio, verdadeiramente astronómico, sobretudo na restauração, cujos preços são padronizados pelas carteiras rechonchudas dos estrangeiros.

A crise parece não ter chegado, portanto, a algumas regiões do país, sobretudo a Lisboa. Aproveitando o feriado de terça-feira (Santo António) e o de quinta-feira, os que habitam as paragens da capital e alguns de outras regiões não se fizeram rogados: meteram três pontes seguidas e lá foram eles em autêntica procissão. Permitam-me agora um parêntesis: quando fazia a viagem, em pleno Alentejo, fiquei impressionado com o tipo de viaturas que, na A2, me ultrapassavam muito para lá dos limites legais de velocidade. Esquecida a péssima educação de muitos senhores bem vestidos e senhoras com “fantásticos” penteados, que por terem um automóvel de alta gama se arrogam de pensar que podem passar por cima de tudo e de todos, inclusive da própria lei, prefiro partilhar com os leitores sobre a maioria dos automóveis que ia observando na auto-estrada. Eram em geral carros de gama média ou alta, principalmente desta, de matrículas recentes, o que só vai de encontro à minha teoria: há regiões do país, sobretudo na capital onde a crise é menos palpável, pelo menos para uns quantos.

Em Lisboa, região que conheço razoavelmente, dezenas de milhares de pessoas trabalham na máquina do Estado, nos inúmeros ministérios, secretarias de Estado, direcções gerais, institutos públicos, tribunais de várias instâncias, Banco de Portugal, Caixa Geral de Depósitos e empresas públicas. São sobretudo essas pessoas que engrossam uma classe média/alta, muito bem remunerada, que se dá ao luxo de passar ao lado da crise, diferenciando-se daqueles que, trabalhando no sector privado, inclusive muita mão-de-obra qualificada, enfrentam cada vez mais vencimentos emagrecidos e, como se tem visto, o espectro do desemprego. Os que têm um emprego bem remunerado na máquina do Estado fazem parte do nicho de pessoas ditas “bem na vida” e que, cada vez mais, se afastam de um outro grupo, mais numeroso, que pertence a uma classe menos favorecida, e que menos margem tinha para resistir uma crise cada vez mais cáustica (...).

Armindo Mendes

sexta-feira, 9 de junho de 2006

> MANTENHAM O CENTRO DE AMARANTE LIVRE DOS AUTOMÓVEIS (Editorial de "O Jornal de Amarante de 8 de Junho de 2006)


O presidente da Câmara defende nesta edição do JA que a autarquia irá respeitar o sentido geral da população amarantina, quando esta for chamada a pronunciar-se sobre as alterações no trânsito da cidade, recentemente aprovadas pelas duas forças da oposição (PSD e Amar Amarante”) no executivo, contrariando a orientação da força que governa o município.
Recorde-se que Armindo Abreu se opõe à abertura ao trânsito da rua 5 de Outubro e da praça da República, enquanto que a oposição sustenta a reabertura do centro histórico à circulação automóvel.
Os amarantinos vão em breve ser chamados a dizer qual das duas soluções preferem, no âmbito do período de consulta pública, que antecede a apreciação da matéria pela Assembleia Municipal.
Denotando um sentido democrático louvável, Armindo Abreu exorta os amarantinos a pronunciarem-se sobre a matéria, prometendo que irá respeitar o sentido geral da população, mesmo se esta preferir de forma clara a reabertura do trânsito.
Armindo Abreu revela desta forma que não será insensível ao veredicto dos amarantinos, rebatendo pela raiz o argumento daqueles que o acusam de ter um atitude prepotente e antidemocrática quando defende o encerramento ao trânsito como a melhor solução para Amarante.
Revejo-me na plenitude na posição do presidente sobre esta matéria. Seria um erro grosseiro reabrir a circulação automóvel na praça da República, que, bairrismos à parte, considero uma das praças mais bonitas do país. Esse recanto do nosso burgo perderia a actual pacatez, que lhe confere uma ambiência muito especial. O arranjo a que foi sujeita há alguns anos foi desenvolvido no pressuposto de que seria uma praça iminentemente pedonal. Injectar-lhe agora centenas de automóveis diários retirar-lhe-ia brilho e afastaria muitas pessoas que gostosamente a desfrutam em agradáveis caminhadas sobretudo nas noites de Verão.
Várias cidades portuguesas com centro histórico – destaco aqui os casos de Guimarães e Viana do Castelo – têm trabalhado no sentido de afastar os automóveis e a poluição por eles gerada dos principais recantos daqueles burgos, que hoje considero dos mais bonitos do país. São duas cidades com centros históricos muito vivos, com um comércio tradicional pujante, que só beneficiou de uma presença cada vez mais assídua de pessoas. Passear a pé nas ruas antigas de Guimarães ou Vizela, desprovidas do cheio a combustíveis e de poluição sonora, é um prazer enorme.
Amarante deve seguir esses exemplos, potenciando as suas magníficas condições. Se o fizer continuaremos a ver crianças a correr na praça, perante o olhar despreocupado dos pais.
Caso contrário, a beleza da praça será esventrada pelo roncar dos automóveis, que rapidamente passarão a estacionar de forma anárquica. A rua 5 de Outubro transformar-se-á num parque de estacionamento caótico. Os transeuntes terão, como acontecia no passado, de fazer autênticas gincanas para conseguir passar entre os automóveis abandonados pelos automobilistas com menor sentido cívico. Os turistas não deixarão de criticar os responsáveis pelo caos.
Amarante perderá encanto…

Armindo Mendes