Tenho observado nos últimos meses a partida de algumas pessoas do meu rol de amizades para alguns países europeus à procura de melhores dias. Vão tristes por deixar a sua terra, mas esperançados em dias melhores.
Esperam sobretudo muito trabalho, quase sempre pouco qualificado e que os cidadãos dos países de destino não estão dispostos a fazer. Construção civil, agricultura e hotelaria são as principais actividades, a troco de um salário mínimo nos países de acolhimento, mas interessante atendendo ao nosso paupérrimo poder compra. Nos dias que correm, uma remuneração de 1500 ou 2000 euros é muito difícil de se conseguir em Portugal, mas lá fora, com um pouco de sorte, assegura-se esse ordenado, o que tem permitido a alguns fazer algumas economias para fazer face aos encargos domésticos.
Em Portugal deixam, não raras vezes, mulheres e filhos. Alguns que conheço não disfarçam o sofrimento que essa situação lhes provoca, mas a ela têm de se resignar, vergados à imperiosa necessidade de ganhar pão para si e para os seus. Nos olhos de um amigo próximo, nos momentos da partida, percebe-se uma tristeza imensa que nos contagia e nos deixa uma sensação azeda...
É triste esta situação. É triste vivermos num país que se diz desenvolvido e não reúne condições para que as pessoas que por cá vivem possam ter direito a algo tão essencial como o trabalho. O que dizer disto, quando vemos que, em simultâneo, tanto dinheiro é desperdiçado por uns quantos, ditos das classes mais favorecidas? É triste percebermos que neste país o fosso entre os mais necessitados e os mais abastados se acentuou neste período de crise prolongada, como se vai percebendo pelas vendas em alto dos veículos topos de gama. Tento, em vão, perceber a que se deve esta tendência. Os especialistas em “economês” afirmam que estas assimetrias são normais em fases de recessão económica, o que parece ser uma inevitabilidade cruel que muitas empresas aproveitam de forma perversa. Por exemplo, custa-me perceber que país é este onde muitas empresas em vez de apostar na excelência e na qualificação dos recursos humanos, preferem usar e abusar de mãos de obra barata e nem sempre com a qualificação ou experiência mínimas.
Permitam-me que, a propósito do que já escrevi, reflicta um pouco sobre o que se vai passando na minha área profissional – a comunicação social –, eventualmente algo que não será muito diferente do que acontece noutras áreas laborais. Há cinco anos, a maioria dos jornalistas da minha geração, que vagueiam na casa dos trintas, ocupavam cargos de destaque nos principais jornais e rádios da região. Eram, por isso, profissionais razoavelmente remunerados. Chegados os primeiros sinais de crise económica, que rapidamente afectaram as empresas de comunicação social, estas confrontadas com uma baixa acentuada do volume de publicidade – a sua principal receita – logo tiveram a compreensível necessidade de avançar com uma política de contenção de despesas, em alguns casos também na área dos recursos humanos. Até aqui tudo normal. Menos normal se tornou a tendência que então se adoptou, que passou por, gradualmente, ir dispensando os jornalistas mais experientes, que foram considerados um peso excessivo, atendendo aos salários que auferiam. Esta política foi seguida de outra ainda mais censurável, que passou pelo convite a um sem número de estagiários em regime precário, isto é, com o mero expediente do recibo verde, que passaram a desempenhar as funções dos dispensados. Dirão alguns, foi a forma encontrada por algumas empresas de comunicação social para continuar a trabalhar. Por tudo isto, não se admirem as pessoas da perda de qualidade da maioria dos órgãos de comunicação social de uma região deprimida cuja economia tem dificuldade em sustentar os jornais que por cá existem. Enquanto os ditos estagiários, são convidados a manter o seu regime precário por tempo indeterminado, alguns jornalistas de qualidade na nossa região estão no desemprego há meses, nalguns casos há anos. Ninguém lhes dá trabalho, simplesmente porque são “demasiado” caros e porventura saberão demais, ao ponto de poderem reclamar aquilo a que qualquer trabalhador tem direito.
Um desses jornalistas, que foi em tempos não muito distantes, chefe de redacção de um importante jornal do Vale do Sousa, dizia-me, desencantado, que tinha recebido uma proposta para ir para Inglaterra apanhar tomates. Dizia-se tentado a aceitar o desafio.
“Estou farto de nada fazer”, afirmava-me ao telefone, logo me pedindo a minha opinião.
Não fui capaz sequer de esboçar uma resposta.
Em Portugal deixam, não raras vezes, mulheres e filhos. Alguns que conheço não disfarçam o sofrimento que essa situação lhes provoca, mas a ela têm de se resignar, vergados à imperiosa necessidade de ganhar pão para si e para os seus. Nos olhos de um amigo próximo, nos momentos da partida, percebe-se uma tristeza imensa que nos contagia e nos deixa uma sensação azeda...
É triste esta situação. É triste vivermos num país que se diz desenvolvido e não reúne condições para que as pessoas que por cá vivem possam ter direito a algo tão essencial como o trabalho. O que dizer disto, quando vemos que, em simultâneo, tanto dinheiro é desperdiçado por uns quantos, ditos das classes mais favorecidas? É triste percebermos que neste país o fosso entre os mais necessitados e os mais abastados se acentuou neste período de crise prolongada, como se vai percebendo pelas vendas em alto dos veículos topos de gama. Tento, em vão, perceber a que se deve esta tendência. Os especialistas em “economês” afirmam que estas assimetrias são normais em fases de recessão económica, o que parece ser uma inevitabilidade cruel que muitas empresas aproveitam de forma perversa. Por exemplo, custa-me perceber que país é este onde muitas empresas em vez de apostar na excelência e na qualificação dos recursos humanos, preferem usar e abusar de mãos de obra barata e nem sempre com a qualificação ou experiência mínimas.
Permitam-me que, a propósito do que já escrevi, reflicta um pouco sobre o que se vai passando na minha área profissional – a comunicação social –, eventualmente algo que não será muito diferente do que acontece noutras áreas laborais. Há cinco anos, a maioria dos jornalistas da minha geração, que vagueiam na casa dos trintas, ocupavam cargos de destaque nos principais jornais e rádios da região. Eram, por isso, profissionais razoavelmente remunerados. Chegados os primeiros sinais de crise económica, que rapidamente afectaram as empresas de comunicação social, estas confrontadas com uma baixa acentuada do volume de publicidade – a sua principal receita – logo tiveram a compreensível necessidade de avançar com uma política de contenção de despesas, em alguns casos também na área dos recursos humanos. Até aqui tudo normal. Menos normal se tornou a tendência que então se adoptou, que passou por, gradualmente, ir dispensando os jornalistas mais experientes, que foram considerados um peso excessivo, atendendo aos salários que auferiam. Esta política foi seguida de outra ainda mais censurável, que passou pelo convite a um sem número de estagiários em regime precário, isto é, com o mero expediente do recibo verde, que passaram a desempenhar as funções dos dispensados. Dirão alguns, foi a forma encontrada por algumas empresas de comunicação social para continuar a trabalhar. Por tudo isto, não se admirem as pessoas da perda de qualidade da maioria dos órgãos de comunicação social de uma região deprimida cuja economia tem dificuldade em sustentar os jornais que por cá existem. Enquanto os ditos estagiários, são convidados a manter o seu regime precário por tempo indeterminado, alguns jornalistas de qualidade na nossa região estão no desemprego há meses, nalguns casos há anos. Ninguém lhes dá trabalho, simplesmente porque são “demasiado” caros e porventura saberão demais, ao ponto de poderem reclamar aquilo a que qualquer trabalhador tem direito.
Um desses jornalistas, que foi em tempos não muito distantes, chefe de redacção de um importante jornal do Vale do Sousa, dizia-me, desencantado, que tinha recebido uma proposta para ir para Inglaterra apanhar tomates. Dizia-se tentado a aceitar o desafio.
“Estou farto de nada fazer”, afirmava-me ao telefone, logo me pedindo a minha opinião.
Não fui capaz sequer de esboçar uma resposta.
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