É da praxe nesta altura do ano escrever um texto sobre o Natal. Com muita franqueza, face ao volume intenso de trabalho a que tenho estado sujeito nas últimas semanas, quase não tive ainda a sorte de sentir o espírito da quadra.
Admito, aliás, que de ano para ano tenho mais dificuldade em senti-lo, pelo menos na forma e na intensidade de outros tempos. O reboliço do dia a dia quase trucida a possibilidade de pararmos para pensar no chamado espírito natalício, que por estes dias a publicidade procura reproduzir em tons de fantasia, em doses industriais. De tal forma assim é que olhamos para tudo isto com uma sensação estranha de artificialismo. Sentimos que há uma máquina poderosa por detrás desta imagem magnânima do Natal. É uma máquina comercial que procura vender tudo e mais alguma coisa, tirando partido de uma sociedade cada vez mais materialista, que tem o seu clímax nesta quadra de consumismo exacerbado. Muitas pessoas perdem-se nesta altura do ano. Gastam enormes quantidades de dinheiro em verdadeiras inutilidades que oferecem apenas para cumprir uma espécie de ritual. Para mim, o Natal é diferente. Nas poucas horas que lhe dedico, procuro fazê-lo de forma mais qualitativa do que quantitativa. Passo a explicar: ligo muito pouco aos presentes, excepto os que se destinam às crianças, essas sim, credoras da nossa atenção especial, também no gesto de oferecer algo que lhes proporciona tanta alegria. Quanto aos adultos, o tratamento é diferente. Para alguns, poucos, os que me dizem mais ao coração, não esqueço um presente, que procuro seja muito especial. Para os demais, inclusive familiares, com a concordância desses, reservo apenas a minha presença sentida na noite ou no dia de Natal. É uma decisão partilhada e recíproca que tomámos há alguns anos. Não gastamos assim tanto dinheiro em pares de meias, perfumes ou outras inutilidades, mas mantemos o espírito natalício do convívio à volta das batatas cozidas com bacalhau, enquanto, por entre uma rabanada e um prato de aletria, aguardamos o momento sempre tão bonito de convidar as crianças da família a abrir os presentes deixados pelo Pai Natal.
É uma delícia para os olhos e um bálsamo para o coração vermos a alegria dos nossos meninos. Sentimo-nos também crianças e o espírito impele-nos para junto dos mais novos, com os quais experimentamos as delícias de brincar com as novidades deixadas pelo Pai Natal.
Mas Natal é também o tempo em que muitos negócios aproveitam para fazer um pé-de-meia. Tanta gente espera esta quadra na expectativa de poder recuperar de um ano parco em receitas. O Natal tem esta veia de consumismo, mas reconheçamos que esse, na óptica de quem vende, tem mesmo de existir. Faço esta reflexão lembrando sobretudo o pequeno comércio, cada vez mais sujeito a uma pressão enorme das grandes superfícies comerciais. O comércio tradicional enfrenta um desafio enorme, que poucas lojas estarão em condições de vencer. Não tenho dúvidas de que os anunciados centros comerciais nestas cidades pequenas, como o que está previsto para Amarante, acabarão com o que resta do nosso pequeno comércio. Poucas lojas saberão e terão capacidade de resistir, confrontadas com a concorrência de uma superfície comercial recheada de lojas moderníssimas, com marcas da moda e com um design atraente. As novas gerações não têm o hábito de percorrer os centros históricos no comércio tradicional. Preferem o conforto do ar condicionado dos centros comerciais, onde encontram as lojas das marcas preferidas e a comida de plástico que tanto apreciam. No galgar dos anos, o comércio tradicional vai definhando e só sobreviverá o que for capaz de se renovar, procurando ir de encontro às necessidades das novas gerações.
Num futuro não muito distante, o Natal, no que ao consumismo diz respeito, vai ser quase um monopólio das catedrais do consumo, deixando às moscas as ruas de cidades que noutros tempos fervilhavam de sensações nesta altura do ano.
Todos vamos preferindo, cada vez mais, o calor do centro comercial, ao frio e à chuva das calçadas, ainda que recheadas de história…
São os ditames dos nossos tempos.
Ainda assim, feliz Natal para todos.
Admito, aliás, que de ano para ano tenho mais dificuldade em senti-lo, pelo menos na forma e na intensidade de outros tempos. O reboliço do dia a dia quase trucida a possibilidade de pararmos para pensar no chamado espírito natalício, que por estes dias a publicidade procura reproduzir em tons de fantasia, em doses industriais. De tal forma assim é que olhamos para tudo isto com uma sensação estranha de artificialismo. Sentimos que há uma máquina poderosa por detrás desta imagem magnânima do Natal. É uma máquina comercial que procura vender tudo e mais alguma coisa, tirando partido de uma sociedade cada vez mais materialista, que tem o seu clímax nesta quadra de consumismo exacerbado. Muitas pessoas perdem-se nesta altura do ano. Gastam enormes quantidades de dinheiro em verdadeiras inutilidades que oferecem apenas para cumprir uma espécie de ritual. Para mim, o Natal é diferente. Nas poucas horas que lhe dedico, procuro fazê-lo de forma mais qualitativa do que quantitativa. Passo a explicar: ligo muito pouco aos presentes, excepto os que se destinam às crianças, essas sim, credoras da nossa atenção especial, também no gesto de oferecer algo que lhes proporciona tanta alegria. Quanto aos adultos, o tratamento é diferente. Para alguns, poucos, os que me dizem mais ao coração, não esqueço um presente, que procuro seja muito especial. Para os demais, inclusive familiares, com a concordância desses, reservo apenas a minha presença sentida na noite ou no dia de Natal. É uma decisão partilhada e recíproca que tomámos há alguns anos. Não gastamos assim tanto dinheiro em pares de meias, perfumes ou outras inutilidades, mas mantemos o espírito natalício do convívio à volta das batatas cozidas com bacalhau, enquanto, por entre uma rabanada e um prato de aletria, aguardamos o momento sempre tão bonito de convidar as crianças da família a abrir os presentes deixados pelo Pai Natal.
É uma delícia para os olhos e um bálsamo para o coração vermos a alegria dos nossos meninos. Sentimo-nos também crianças e o espírito impele-nos para junto dos mais novos, com os quais experimentamos as delícias de brincar com as novidades deixadas pelo Pai Natal.
Mas Natal é também o tempo em que muitos negócios aproveitam para fazer um pé-de-meia. Tanta gente espera esta quadra na expectativa de poder recuperar de um ano parco em receitas. O Natal tem esta veia de consumismo, mas reconheçamos que esse, na óptica de quem vende, tem mesmo de existir. Faço esta reflexão lembrando sobretudo o pequeno comércio, cada vez mais sujeito a uma pressão enorme das grandes superfícies comerciais. O comércio tradicional enfrenta um desafio enorme, que poucas lojas estarão em condições de vencer. Não tenho dúvidas de que os anunciados centros comerciais nestas cidades pequenas, como o que está previsto para Amarante, acabarão com o que resta do nosso pequeno comércio. Poucas lojas saberão e terão capacidade de resistir, confrontadas com a concorrência de uma superfície comercial recheada de lojas moderníssimas, com marcas da moda e com um design atraente. As novas gerações não têm o hábito de percorrer os centros históricos no comércio tradicional. Preferem o conforto do ar condicionado dos centros comerciais, onde encontram as lojas das marcas preferidas e a comida de plástico que tanto apreciam. No galgar dos anos, o comércio tradicional vai definhando e só sobreviverá o que for capaz de se renovar, procurando ir de encontro às necessidades das novas gerações.
Num futuro não muito distante, o Natal, no que ao consumismo diz respeito, vai ser quase um monopólio das catedrais do consumo, deixando às moscas as ruas de cidades que noutros tempos fervilhavam de sensações nesta altura do ano.
Todos vamos preferindo, cada vez mais, o calor do centro comercial, ao frio e à chuva das calçadas, ainda que recheadas de história…
São os ditames dos nossos tempos.
Ainda assim, feliz Natal para todos.
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