domingo, 26 de novembro de 2006

> Centro histórico mais vivo


O novo regulamento de trânsito da cidade de Amarante vai entrar em vigor nos próximos dias, introduzindo pequenas alterações nos sentidos de circulação de algumas artérias, mas mantendo aquilo que é mais importante: o centro histórico livre da circulação de automóveis.

Termina assim um longo e polémico processo de elaboração do regulamento de trânsito da cidade, que foi politizado em demasia, acabando por prejudicar a discussão aberta da questão de fundo em que muitos amarantinos divergem: haver ou não trânsito na praça da República e Rua 5 de Outubro.

A oposição no executivo municipal chegou a impor a sua maioria naquele órgão alterando aquela que era a proposta inicial do vereador do pelouro, Carlos Silva. Como recordar-se-ão os nossos leitores, a referida proposta mantinha a interdição da circulação no centro histórico, mas os dois vereadores do movimento Amar Amarante e os dois dos PSD impuseram a aprovação de alterações que apontava no sentido de reabertura daquela zona da cidade ao trânsito.

Semanas depois, cumprido o período de discussão pública, a proposta emanada da Câmara aprovada pela oposição foi submetida à Assembleia Municipal, onde a maioria socialista impôs nova alteração, desta feita em sentido contrário, repondo a filosofia inicial da proposta que havia sido apresentada no executivo pelo vereador do pelouro. Viveram-se então na Assembleia Municipal momentos que em nada abonaram para a boa imagem daquele importante órgão autárquico, com uma discussão nem sempre civilizada entre as duas correntes de opinião. O momento mais crítico ocorreu quando, após uma maratona de argumentos contraditórios, foram postas à votação as alterações propostas pelos deputados do PS e os eleitos da oposição, com excepção dos presidentes de junta, decidiram abandonar a sala, evidenciando uma manifesta falta de cultura democrática, ao não acatarem a vontade soberana da maioria, aliás tão legítima quanto a maioria no órgão executivo que tinha imposto uma decisão diferente, contra a vontade do partido que ganhou as eleições em Outubro de 2005.

Estes episódios trouxeram à colação, como repetidamente já escrevi nestes editoriais, a urgência de os principais partidos do círculo do poder – PS e PSD – se entenderem no sentido de alterar a lei actual que confere ao executivo municipal uma vocação colegial, que pode redundar, como ocorre actualmente em Amarante, numa correlação de forças entre os partidos das oposição poderem impor a sua vontade à força que recolheu maior número de votos em eleições.

Mas, mais do que escalpelizar de novo esta matéria de foro legislativo, prefiro quedar-me na satisfação de poder constatar que a minha opinião sobre a questão do trânsito acaba por ser coincidente com a que efectivamente vai agora ser posta em marcha. Bem-haja aos que, nos locais próprios, resistindo à demagogia fácil, se bateram com grande elevação, pela manutenção de uma conquista da cidade de Amarante: o centro histórico livre de carros.

Aplaudo a lucidez dos que acham que uma cidade sem carros é uma cidade mais viva uma cidade mais saudável, onde todos podemos caminhar calmamente, desfrutando da beleza daquele que considero ser um dos quadros mais bonitos do nosso Portugal.

Compreendo que alguns, sobretudo pequenos comerciantes, tenham uma opinião contrária, confrontados que estão com uma crise económica que também os afectada. Não creio, porém, que a questão do trânsito explique as dificuldades. Penso até que as ruas fechadas propiciam melhores condições para as compras no comércio tradicional, como se pode constatar noutras cidades onde isso já ocorre. Mais do que os lamentos, era importante que alguns comerciantes se esforçassem no sentido de modernizar os seus estabelecimentos, tornando-os mais apelativos e também, porque não, praticassem horários mais condizentes com as exigências do um mercado cada vez mais concorrencial. Se o fizessem reuniriam melhores condições para potenciar, em proveito próprio, o maior fluxo de clientes, muitos dos quais até são turistas, que caminham nas ruas de Amarante e tantas vezes encontram as lojas encerradas.

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