quinta-feira, 9 de agosto de 2007

> Mostra do Tâmega: ponto de partida

A Mostra do Tâmega que decorreu recentemente em Amarante é um sinal positivo do quanto um bom entendimento entre os municípios da região pode redundar em iniciativas importantes, como este certame.
Os resultados das eleições autárquicas de 2005 trouxeram, de facto, uma lufada de ar fresco na forma como os municípios do Baixo Tâmega perspectivam o associativismo.
A ida às urnas ditou o desaparecimento do poder dos dois autarcas que mais resistiam ao espírito associativo: Ferreira Torres, em Marco de Canaveses, e Emília Silva, em Baião. Eram duas pessoas, que perfilhavam um cunho muito individualista e que, visivelmente, não se reviam no esforço que outros autarcas da região, nomeadamente Amarante, iam desenvolvendo no sentido de conferir a este espaço territorial uma visão mais concertada do futuro. Hoje o desenvolvimento não pode ser visto numa mera perspectiva de capela, com cada concelho a olhar exclusivamente para o seu umbigo. Infelizmente, também por cá, em Amarante, ainda há muita gente que continua a alimentar uma visão redutora de desenvolvimento, quase do tipo orgulhosamente sós, como se viu recentemente com a mesquinha resistência dos apoiantes de Ferreira Torres e até o PSD à adesão do município de Amarante à Fundação Eça de Queiroz, só porque aquela tem sede em Baião. Já é tempo de deitarmos para trás das costas as invejas do vizinho do lado e olharmos para ele, não de soslaio, mas como parceiro, entre iguais, num trilho de desenvolvimento.
Os municípios são demasiado pequenos para, num quadro nacional e europeu, enfrentarem, isolados, os desafios de futuro. As grandes estratégias de desenvolvimento têm de ser pensadas e desenvolvidas num contexto regional, aliás como já está implícito no novo Quadro de Referência Estratégica Nacional, cujos fundos estão vocacionados para projectos de um âmbito que extravase as fronteiras de um qualquer município. Há que equacionar as políticas numa lógica regional, dotando o conjunto destes seis concelhos, de forma equilibrada e adequada às características de cada um, das ferramentas essenciais para vencer, falemos nós de equipamentos colectivos, acessibilidades, investimentos na indústria ou em infra-estruturas turísticas.
Hoje, no Baixo Tâmega respira-se confiança, porque os seis municípios têm em comum a vontade de trabalhar em conjunto. Percebe-se que há um bom relacionamento pessoal entre os autarcas e isso, como se sabe, facilita bastante o trabalho em equipa.
O Baixo Tâmega foi visto durante muitos anos, inclusive pelos sucessivos governos, como uma região difícil, também porque os autarcas não apresentavam coesão bastante para trabalhar em conjunto. Lembramo-nos todos, há alguns anos, do atribulado processo de construção de um aterro sanitário que pusesse termo ao cancro das lixeiras. Durante anos, os autarcas não se entenderam sobre a localização. Alguns queriam ver resolvido o problemas, mas, numa visão muito ortodoxa, desde que o aterro não fosse parar aos seus concelhos. Foi assim durante anos até que, um dia, apareceu cá um ministro do Ambiente com “mão de ferro” e deu um murro na mesa. Ou os autarcas se entendiam ou ficariam com um problema gravíssimo entre mãos. Esse ministro chamava-se José Sócrates e a ele se deve o facto de hoje termos uma empresa, a Rebat, com capitais públicos, inclusive dos seis concelhos, que gere com sucesso a política de resíduos sólidos na região.
Esta foi uma boa experiência, aliás a única com efectiva dimensão, que o Baixo Tâmega foi capaz de construir. Mas ficou a ideia, consubstanciada em resultados práticos, de que, em determinadas áreas, trabalhar em equipa é sempre mais fácil e eficaz do que isoladamente.
Hoje em Marco de Canaveses e Baião temos autarcas de espírito aberto e moderno, que percebem as vantagens num entendimento estratégico com Amarante e com os municípios de Basto. Os nossos presidentes de Câmara estão sinceramente convencidos de que as sinergias criadas entre os seus municípios são fundamentais para ajudar a tirar a região da cauda do país. Mais ainda: estes autarcas tem de saber partilhar ideias, projectos e recursos porque só assim o Baixo Tâmega fará vingar a sua identidade, agora que se sabe que o QREN obriga a projectos conjuntos com o vizinho Vale do Sousa, uma região com muito mais pujança económica e coesão intermunicipal.
Esta Mostra do Tâmega é a primeira. Talvez por isso ainda dê mostras de alguma fragilidade, o que é natural. Mas, foi importante a sua concretização como plataforma para outras Mostras do Tâmega, nos próximos anos. Provou-se que foi possível realizar algo em comum, vencendo-se desconfianças antigas. Neste certame já se podem ver empresas de vários concelhos, que disseram presente ao repto da associação de municípios. Mas também outras não quiseram ou puderam vir, mas essas hão-de vir um dia, desde que percebam que vale a pena mostrar os seus produtos e serviços para um público que também ser quer cada vez mais regional e até nacional.

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