segunda-feira, 7 de agosto de 2006

> AMARANTE É CULTURA


A cidade e o concelho de Amarante distinguem-se pela positiva dos demais concelhos da região, quando se faz uma avaliação das actividades desenvolvidas por estas paragens.
Apesar da subjectividade desta afirmação, obviamente passível de contestação por outrem, assumo de forma convicta esta minha avaliação, fundada em dados objectivos que mais à frente comentarei.
Penso, por vezes, que muitos amarantinos não se dão conta da riqueza cultural da terra onde vivem ou nasceram.
Muitos saberão que esta é a terra de Pascoaes e Amadeo, mas outros, menos zelosos, apressar-se-ão a dizer que essas são figuras do passado e que agora, como já ouvi dizer algures, Amarante parou no tempo e já não terá o encanto de outras épocas.
Fico triste quando ouço essas afirmações... Amarante, no todo social, cultural e monumental, não merece isso.
Se é certo que nem tudo estará bem, devem os amarantinos atentar naquilo que os distingue na região. Não tenhamos vergonha de nos compararmos com terras mais ou menos próximas. Façamo-lo de peito aberto, na certeza de que não ficaremos mal na fotografia.
Haverá cidades por estas paragens, de idêntica dimensão, com tanta riqueza cultural? Tenho a certeza que não. Ora vejamos alguns indicadores que sustentarão esta minha afirmação. Que cidades próximas têm um grupo de teatro com a qualidade do T’Amaranto? Certamente poucas terão esse privilégio. Mas se ao teatro acrescentarmos a Orquestra do Norte, aqui sedeada e que abundantemente nos brinda com magníficos concertos? Esta é a única orquestra regional em toda a região e trabalha diariamente em Amarante, com executantes do que de melhor há no nosso país. E qual é a cidade da região que tem um museu como o nosso, recheado de um espólio tão rico e variado? Qual é a cidade da região que organiza concursos literários e de pintura como os dedicados a Teixeira de Pascoaes e Amadeo Souza-Cardoso, respectivamente? E já agora, qual é a cidade que tem uma biblioteca municipal a funcionar num antigo convento objecto de uma recuperação arquitectónica notável. Ou ainda, que terra próxima tem uma casa da cultura também albergada num antigo edifício recuperado com mestria e bom gosto?
Poderíamos aqui continuar a enunciar situações que afirmam Amarante como terra de cultura, também muito grata ao labor de associações de maior ou menor dimensão que promovem actividades culturais mais ou menos eruditas, com maior ou menor pendor tradicional. Estou a lembrar-me das duas bandas de música, de vários agrupamentos folclóricos, escolas de música, de dança e de outras artes. Ou ainda, porque o nosso passado também é cultura, que cidade das redondezas tem uma praça tão monumental e tão bem arranjada como a nossa, frente à Igreja de S. Gonçalo, paredes meias com uma ponte de rude granito, mas quase tão bela como o Tâmega que sob si serpenteia.
Então e as nossas festas de S. Gonçalo, tão apreciadas pelos forasteiros e tão fiéis às tradições dos nossos ancestrais, também não são cultura, a cultura genuína de um povo humilde e trabalhador? E passear nas margens do Tâmega, numa noite de Verão, enquanto conversamos com um amigo, degustamos um doce conventual e olhamos o Covelo, também não é cultura? Haverá nas redondezas um rio, ora rebelde, ora dócil, que esventra uma cidade em granito?
Alguns estarão a ler este escrito e achá-lo-ão até algo piroso, por estar, num bairrismo exacerbado, a idolatrar a terra de Amarante. Não me incomodam esses impropérios. Fico mais indignado quando ouço amarantinos a dizer mal da sua terra, só porque, pontualmente, não gostarão deste ou daquele político, desta ou daquela decisão, ou porque acham que a construção desenfreada em cimento armado, tão cara a cidades próximas, é sinónimo de desenvolvimento.
Bem sei que nem tudo está bem e que haverá aspectos a melhorar. Por exemplo, falta uma verdadeira sala de espectáculos.
Mas a insatisfação sadia é mote para, fazendo das fraquezas forças, potenciarmos esta Amarante tão rica.
Gosto de Amarante assim. É muito bela esta cidade com as suas ruas antigas estreitas e íngremes, este concelho plantado no sopé do Marão imponente.
Bem-haja aos que procuram, a cada dia, melhorar Amarante, promovendo acções que acariciam a alma da Princesa do Tâmega. Sim, as diferentes formas de cultura são um bálsamo para a alma dos mortais.
Façam, não vacilem. Apesar dos recursos serem parcos, continuem a dar-nos teatro, música de qualidade, ópera, exposições, animação de rua, concertos com artistas de qualidade, despiques de bombos, arruados de filarmónicas, cortejos etnográficos e muito, muito mais…
Dêem-nos condições para Amarante continuar a ser igual a si própria, honrando os vultos do passado, uma terra que se orgulha de ser especial.

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