segunda-feira, 10 de setembro de 2007

> Regresso ao país real

Terminado o mês de Agosto, tradicional período de férias para a maioria dos portugueses, eis que o país regressa à normalidade. Para muitos portugueses acabou a “ilusão” das férias e regressam as “dores de cabeça” do quotidiano, desde logo o reinício das aulas, o que corresponde, para milhares de famílias, a mais despesas com a compra de manuais escolares. Este costuma ser um momento particularmente difícil, sobretudo para quem não goza de desafogo financeiro. A propósito, fico atónito quando vemos reportagens televisivas com anúncios de créditos bancários para a compra de livros.
Direi apenas que muito mal andarão as finanças desses agregados quando já não conseguem reunir meios para suportar as despesas com a compra de manuais escolares. Na maioria das situações serão famílias que efectivamente auferem de rendimentos magros e que, por isso, já não têm folga para suportar este embate.
Mas, receio que muitos casos que recorrem esse tipo de crédito sejam os mesmos que, há poucos meses, também já terão acorrido à banca para irem passar umas férias de sonho, daquelas que vêm nas revistas e que custam uns milhares de euros. São os tais casos que, inebriados pela onda desenfreada do consumismo, contam para as tristes estatísticas portuguesas, segundo as quais o endividamento das famílias é já superior a 150 por cento do rendimento! Esta situação tenderá a piorar nos próximos meses, agora que se sabe que a taxa de referência para o crédito à habitação, ditada pelo Banco Central Europeu, continuará a subir, daí decorrendo encargos acrescidos para os que todos os meses têm de pagar as suas prestações à banca pela aquisição de casa própria. Mais graves são aquelas situações em que as prestações subiram de tal maneira que ultrapassaram já o limiar do suportável para as famílias.
É certo que milhões de portugueses continuam a viver acima das suas possibilidades. O recurso ao crédito para a casa, para o carro, para os electrodomésticos e para as férias, etc., quando realizado de forma quase compulsiva, avesso a factores de racionalidade, sem atentar em cenários futuros, como a possível subida das taxas de juro, permite temporariamente manter um nível de vida relativamente alto, muito útil para alimentar aparências junto de amigos e familiares, mas redunda, a prazo, em situações aflitivas para muitos agregados familiares, o que é cada vez mais comum nos grandes centros.
Bom seria que, nestas alturas do ano, o nosso Governo e a associações de defesa do consumidor avançassem com grandes campanha de sensibilização da população para os perigos do endividamento excessivo. Se o fizessem estariam a prevenir situações muito complicadas.
Mas este regresso às aulas também é uma enorme dor de cabeça para a classe profissional dos professores. Mais uma vez, os docentes vieram a terreiro criticar a colocação nas escolas. Desta feita, pelo que temos ouvido, terão ficado sem colocação cerca de 40 mil candidatos. Na óptica dos sindicatos, este número quer dizer que há cada vez menos professores nas escolas e que, por isso, a qualidade do ensino vai piorar, nomeadamente nos alunos com necessidades educativas especiais. Já do lado do Ministério da Educação, justifica-se esta redução com base no abaixamento do número de alunos nas escolas e com a afectação às actividades lectivas de grande quantidade de docentes dos quadros de escolas que estariam, até agora, afectos a outras actividades dentro dos estabelecimentos escolares, por exemplo ao nível da direcção. O governo garante ainda que os professores colocados são suficientes para as necessidades.
Quem não é parte interessada directamente neste diferendo acaba por ficar confuso, não sabendo quem efectivamente tem razão. Para a maioria da população, importa saber se, efectivamente, estão garantidas as condições para um ensino de qualidade dos nossos filhos, no plano da afectação de recursos humanos (docentes e não docentes) e materiais (instalações e material didáctico e pedagógico). Pouco importarão os problemas profissionais dos que sonham serem docentes, aos quais seremos sensíveis, mas, em nome da verdade, não são muito diferentes de outras classes profissionais, que não podem cruzar os braços face às mudanças em curso no mundo do trabalho, que exigem maior flexibilidade.

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