terça-feira, 9 de maio de 2006

“Geração do polegar”

Fala-se cada vez mais na juventude da “geração do polegar”, numa alusão aos muitos jovens de utilizam as chamadas mensagens de telemóvel (SMS).
Este mote remete-me para uma reflexão sobre a utilização maciça deste tipo de mensagem. Não sou dos que abomina estas novas formas de comunicação, antes pelo contrário, eu próprio utilizo, esporadicamente, as SMS para envio de pequenas mensagens, o que se torna mais económico do que uma chamada telefónica.
Critico, porém, o uso excessivo que os jovens, sobretudo estes, fazem desse tipo de mensagem, hábito que redunda em situações que considero muito negativas. Desde logo, a superficialidade do acto, tantas vezes com mensagens vazias de conteúdo, faz-nos pensar sobre o tipo de relações sociais que os jovens actuais - aqui corre-se o risco de se generalizar - estabelecem entre si, cada vez mais postas em segundo plano face à dependência crescente de “hábitos tecnológicos”, como jogar computador, consolas, navegar na Internet, ouvir MP3, ou ver televisão, momentos quase sempre solitários. Poucos são os jovens que se interessam por um bom livro ou por um bom programa de televisão, tipo documentário, ou peça de teatro, que reputam como coisas chatas para as quais não têm “pachorra”. Numa sociedade cada vez banal, onde até a comida é de tipo plástico - detesto ver a rapaziada a chupar o ketchup das mãos -, os nossos jovens preferem, em grande parte dos casos, coisas mais banais, de consumo imediato – agora não estou a falar das batatas fritas -, que não exijam esforço intelectual para assunção da informação, independentemente do formato em que ela for difundida. Também actos que considero algo perversos, sobretudo nas gerações mais jovens, são hoje moda, como o de beber álcool até cair para o lado ou exibir um cigarro que se fuma em qualquer esplanada, onde não falta música de qualidade duvidosa, com um volume demasiado agressivo para os ouvidos mais sensíveis, impossibilitando uma coisa tão simples entre os seres humanos, que é uma boa conversa.
Outros, impulsionados por anúncios televisivos muito bem feitos, agarram-se aos telemóveis e em poucos minutos gabam-se de mandar dezenas de mensagens, como um adolescente que observei recentemente num café desta cidade, que trocava SMS`s com um colega que estava duas mesas atrás de si. Os polegares da rapaziada, cada vez mais sujeitos e tendinites, até “fumegam”, tal a azáfama com que “teclam” nos pequenos aparelhos. Vai daí, surge a linguagem codificada dos SMS, onde não existe qualquer acentuação ou pontuação, que tenho muito dificuldade em perceber. É aquilo a que eu chamo “vale tudo”.
Os hábitos de escrita já eram exíguos, mas, com o “advento” das SMS é a derrocada total. Hoje poucos são os jovens que conseguem escrever uma frase com “cabeça, tronco e membros”. Tenho uma familiar professora que me mostra alguns textos feitos por alunos dela, a maioria adolescentes. É uma dor de alma ver os maus-tratos que muitos infligem à língua de Camões. Alguns até parecem que estão a escrever mensagens de telemóveis para os amigos, tal é quantidade de erros ortográficos e frases sem nexo.
2 – Um estudo recente conclui que mais de metade dos portugueses não tem poupanças. Conclusão inquietante, mas que só me surpreende pela crueza dos números. Parte dos que dizem não poupar, com certeza terão razões que justifiquem essa situação, tão grandes são as dificuldades económicas por que passam muitas famílias portuguesas, que vivem à custa de salários exíguos, que não deixam margens para poupanças.
Outros há, porém, que não poupam porque estão obcecados por uma onda consumista e de facilitismo, que os leva a comprar mil e uma inutilidades que estão na moda ou a adquirir bens demasiado caros para as suas posses, só porque um carro melhor, uma boa vivenda ou roupa de marca conferem mais “status”. Esses são os que, muitas vezes submersos pelas dívidas à banca, gastam tudo o que ganham, não lhes sobrando um tostão para fazer face a um futuro cada vez mais incerto.
Armindo Mendes
(editorial de "O Jornal de Amarante", de 6 de Abril de 2006)

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