segunda-feira, 11 de setembro de 2006

> EMIGRANTES DE SEGUNDA E TERCEIRA GERAÇÕES

Terminou mais um mês de Agosto, o mês aproveitado pela maioria dos portugueses para gozar as suas férias. Para muitos será o regresso ao trabalho e às dificuldades de um dia a dia cada vez mais complicado e de futuro incerto. A crise económica mantém-se, com um custo de vida em crescendo.

Há dias, à saída de um supermercado, ouvia alguém comentar, em universo familiar, como o dinheiro tem emagrecido nos últimos anos. Um determinado montante, há três ou quatro anos, permitia uma vida relativamente desafogada e até propiciadora de economias. Hoje, o mesmo valor já não dá azo a grandes extravagâncias. Há que redobrar os cuidados, cortar algumas despesas supérfluas e esperar que as coisas melhorem.

Agosto é também o mês do regresso maciço dos nossos emigrantes, um momento que vai perdendo a emoção de outros tempos, simplesmente porque os emigrantes que mais emoção emprestavam ao momento, os que emigraram nas décadas de 60 ou 70, já estão quase todos radicados definitivamente neste Portugal. Quando era criança assistia ao regresso de alguns emigrantes familiares. Percebia a importância e o lado quase dramático do momento, tantos eram os beijos e os abraços. Seguiam-se longas refeições com pratos bem portugueses acompanhados dos melhores tintos e brancos da nossa terra.

Os que vão regressando hoje são já as segunda ou terceira gerações de emigrantes, filhos ou netos dos pioneiros de tiveram de comer o pão que o diabo amassou para singrar lá fora. Estas gerações que vêm hoje a Portugal, constituídas por luso-franceses já nascidos em terras gaulesas, fazem-no quase sempre de forma algo desprendida, porque, ao contrário dos pais, não estão agarrados a este país por um cordão umbilical. Vêm cá uma ou duas vezes por ano e pouco mais. Quando chegam, as cenas do passado não se reproduzem nos mais novos.

São a maioria jovens que chegam eufóricos e vestidos de forma extravagante, influenciados pelas modas de Paris. Falam quase todos um “fraçuguês” cacofónico. É pena que estas gerações de emigrantes não queiram ou não possam aprender a língua dos seus pais. A mim causa-me especial tristeza ver casais jovens com crianças pequenas, com os quais falam em francês, ouvi há dias numa esplanada no largo de S. Gonçalo. Nem sequer fazem o esforço de, pelo menos em Portugal, tentar ensinar às crianças a língua dos seus avós, afinal uma coisa matricial de um povo – a língua pátria. Seria assim tão difícil ensinar-lhes a dizer água ou leite?

Bem sei que as coisas não são fáceis e nem sempre há em terras de França escolas de português onde as crianças possam aprender, dificultando a tarefa dos pais. Mas essa é apenas uma parte da questão. A outra decorre da vontade de cada um. Dou sempre exemplo: conheço um casal de emigrantes de primeira geração que sempre obrigou os filhos a falarem português em casa. Estes são hoje homens e pais, que obrigam os filhos a falar português em casa. São pessoas integradas na sociedade francesa, mas mantêm com orgulho os poucos laços que os ainda une à terra dos seus pais ou avós, a língua, que falam de forma emotiva, apesar dificuldades já perceptíveis nos netos.

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