EDITORIAL DA EDIÇÃO 88 DO EXPRESSO DE FELGUEIRAS, 30 DE OUTUBRO DE 2009
A passada quarta-feira, 28 de Outubro, ficará para a história do concelho de Felgueiras como o dia em que tomou posse o primeiro executivo municipal de matriz não socialista.
Este pormenor revela-se importante, embora, em minha opinião, não pela carga ideológica intrínseca, porque essa é pouco relevante quando em causa está uma governação municipal.
A importância maior reside no carácter de alternância no poder, um valor que concorre para a boa saúde do exercício da gestão política do município, mas que em Felgueiras, ao contrário da maioria dos concelhos vizinhos, só ocorreu mais de três décadas após a instituição do poder local democrático em Portugal.
Por alternância entenda-se mudança de protagonistas e políticas, um processo que se traduza na implementação de novas ideias, novos conceitos, métodos de trabalho diferenciados e, sobretudo, maior ambição.
Como em todas as organizações, sejam elas de que tipo forem, como em cada um de nós, é saudável a introdução ou assumpção de mudanças, que se traduzam em novos e estimulantes desafios e que, assim, colmatem o efeito nefasto de uma certa acomodação.
Por isso defendi, em editorial, na edição que antecedeu as eleições, que urgia a mudança. Fi-lo, de forma convicta, por entender que a nossa terra tinha muito a ganhar com uma mudança de protagonistas na gestão autárquica.
Com o fim de um ciclo político, em Felgueiras todos esperamos agora que a simples mudança para protagonistas de uma nova geração represente um elemento catalisador de toda uma máquina municipal – poder político e funcionários - que há muito acusava sinais de apatia, um certo desânimo e, não raras vezes, tiques de sobranceria perante os munícipes.
Que os novos protagonistas saibam impor de forma natural entre os funcionários da autarquia um novo ritmo de trabalho e uma melhor organização, com base em factores de motivação acrescida que premeiem o mérito e a excelência em detrimento de seguidismos de lógica partidária.
É lugar comum dizer-se que a mudança é quase sempre positiva. Cumulativamente, percebe-se isso quando se ouve os felgueirenses comentar em sentido positivo a viragem eleitoral que ocorreu a 11 de Outubro.
Inácio Ribeiro e a sua equipa gozam hoje de um notável estado de graça entre a maioria dos munícipes. Há um evidente capital de esperança nos novos protagonistas.
Mas essa é uma enorme responsabilidade que pende sobre os ombros do novo presidente.
Os que conhecem Inácio Ribeiro qualificam-no como um homem trabalhador e tecnicamente habilitado para as funções a que foi chamado.
O novo presidente não deverá nunca perder aquele que foi e é um património consolidado durante o período eleitoral junto dos felgueirenses: a sua humildade aliada a um vincado sentido prático.
Para bem de Felgueiras, espera-se que o novo edil não seja acometido de tiques e vícios que afectam muitas vezes os que chegam ao poder.
Que o novo presidente de todos os felgueirenses não se deixe seduzir pelo conforto dos gabinetes e pelo glamour que o contacto com as altas esferas do poder sempre proporcionam.
As origens simples deverão ser a garantia de que nunca perderá a sua sensibilidade inata para as questões que preocupam os mais humildes dos munícipes, as mais pequenas das associações ou as juntas de freguesia, primeiro pilar do poder local.
Inácio Ribeiro deverá ser o rosto de um novo modelo de governação, mais próximo dos cidadãos, mais atento ao fervilhar da sociedade civil.
Deverá ser, no sentido figurado, “o homem do leme” num mar recheado de perigos, apontando caminhos de esperança, não apenas com discursos, mas com gestos e atitudes substantivas que galvanizem a alma felgueirense.
Mais do que anúncios de obras grandiosas, assentes numa máquina de promoção pessoal que fez escola no executivo anterior, os felgueirenses esperam que o novo elenco municipal faça jus ao epíteto que serviu de base eleitoral: Nova Esperança.
Esperamos todos que Inácio Ribeiro como presidente seja o rosto de uma nova esperança para os mais humildes e sinónimo de merecidos apoios às associações culturais e clubes desportivos, uma nova e equitativa atitude para com as juntas de freguesia, sendo inequívoco que, se tal ocorrer, uma nova dinâmica e uma onda de optimismo, uma acrescida auto-estima, vão emergir no concelho, com vantagens para todos os que, como nós, acreditam num futuro melhor e nas capacidades colectivas da nossa terra.
Uma gestão municipal moderna tem de ser sensível às preocupações dos que nela confiaram o seu voto, procurando aliviar-lhes a sobrecarga de taxas e proporcionado-lhes novos e melhores serviços/infra-estruturas em diferentes áreas.
Em Felgueiras, como diz o presidente, “há gente séria, simples e trabalhadora”, mas esta vai reclamar o cumprimento de promessas eleitorais, como o abaixamento do preço da água, das taxas de recolha do lixo e os novos apoios aos idosos e jovens, entre outras medidas.
Os munícipes acreditam que Inácio Ribeiro honrará os seus compromissos, mas devem ter a paciência de saber que o novo executivo não poderá mudar tudo da noite para o dia, sendo credor de um natural período de adaptação. A nova câmara não poderá romper, num ápice, com procedimentos, métodos e compromissos que herda do anterior executivo.
Temos todos o dever de esperar um tempo razoável, assim como todos teremos o direito e a obrigação de reclamar caso os políticos que agora nos governam não cumpram o que prometeram.
A democracia é assim mesmo: um contrato de confiança entre governantes e governados.
Se Inácio Ribeiro for, como presidente da Câmara, para bem da nossa terra - o que todos esperamos - será com certeza credor do reconhecimento dos felgueirenses.
Caso contrário, a democracia, no momento certo, voltará a fazer-se ouvir.
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