E mais uma vez sinto vontade de abordar duas matérias intrinsecamente ligadas entre si, já neste espaço recorrentemente objecto de reflexão. Reporto-me, em primeira análise, às questões inerentes ao tratamento jornalístico de determinados temas, e em segunda perspectiva, mas tantas vezes associada à primeira, à maneira como a praxis da política suscita um olhar crítico do senso comum.
Admito o paradoxo em que poderei incorrer, por ser tão crítico deste tipo de matérias e sentir-me em simultâneo impelido a tratá-las nestes textos.
Mas, perdoem-se os leitores, que terão, pelos menos os mais pacientes, novamente de me aturar com estas reflexões, mas desta vez o tema suscita-me um olhar ainda mais crítico. Ora, já deverão ter percebido, reporto-me ao famigerado caso da licenciatura de José Sócrates.
Acompanhei, confesso que atónito, a recente entrevista concedida à RTP pelo primeiro-ministro de Portugal. Durante cerca de 45 minutos, fiquei incrédulo com o triste espectáculo proporcionado pelo canal público de televisão, esmiuçando com questões mesquinhas a vida privada, neste caso académica, do cidadão José Sócrates.
Se aquele tipo de entrevista tivesse sido realizado pela TVI ou pela SIC, contextualizando o passado recente, até nem ficaria surpreendido, por serem canais privados que muitas vezes, em nome das audiências, sobrevalorizam a informação espectáculo em detrimento dos critérios editorais objectivos. Mas foi o canal pago por todos nós, que devia primar pelo cumprimento de uma alinha editorial sóbria e consentânea com o que é comummente aceite como regras genéricas de um bom jornalismo.
Não concebo que seja possível dois reputados jornalistas estarem 45 minutos a tentar perceber em que moldes é que foi feita a licenciatura, com que equivalências e em que datas, se à sexta ou ao sábado, se foram emitidos determinados certificados, ou se foi o professor A ou o professor B que leccionou esta ou aquela cadeira. Foi uma das entrevistas mais maçudas, mesquinhas, artificiais e sem interesse a que já assisti.
Numa altura crucial para o país, em que tantos portugueses vivem momentos de grande dificuldade, mas também onde começam a aparecer indicadores animadores quanto ao crescimento da economia e abaixamento do défice, não era muito mais premente, diria, incontornável, aproveitar a presença do primeiro-ministro para o questionar sobre aquilo que efectivamente interessa a todos nós? Os 45 minutos perdidos a discutir o sexo dos anjos, sabe-se lá com que interesses, teriam sido muito mais bem aplicados se fosse dada oportunidade a José Sócrates para aprofundar medidas tão sensíveis como o encerramento das urgências, maternidades, escolas e postos policiais e tribunais um pouco por todo o país. Ou então a possibilidade do chefe do governo falar das suas perspectivas para o futuro de Portugal.
Tenho a certeza de que a maioria dos portugueses não está interessada em saber se o primeiro-ministro é ou não engenheiro ou se a sua licenciatura foi conseguida de forma mais facilitada. Essas são questões particulares de José Sócrates em nada influenciam a sua tarefa de governar o país. O que nos interessa é que o primeiro ministro governe bem, independentemente de ser engenheiro, advogado, médico, electricista ou qualquer outra profissão.
Mas então o que dizer de alguns políticos com responsabilidade que rapidamente se precipitaram num aproveitamento absolutamente deplorável deste caso, revelando um oportunismo que traduzirá a forma mesquinha como percepcionam o exercício da causa pública? Esses políticos profissionais, que gravitam nos corredores entrecruzados dos corredores do poder do microcosmos da capital, tão disponíveis para esmiuçar a mesquinhez, prestaram um mau serviço ao país. Não perceberam que as suas preocupações estão a anos-luz do que efectivamente interessa aos cidadãos e deram um mau exemplo. Só se lamenta que alguma comunicação social tenha perdido o discernimento de separar o acessório do essencial, preferindo ampliar o primeiro, numa manifestação, que não é nova, de que o espectáculo, mesmo conseguido por caminhos menos sóbrios, vale mais a pena do que uma informação rigorosa.
Admito o paradoxo em que poderei incorrer, por ser tão crítico deste tipo de matérias e sentir-me em simultâneo impelido a tratá-las nestes textos.
Mas, perdoem-se os leitores, que terão, pelos menos os mais pacientes, novamente de me aturar com estas reflexões, mas desta vez o tema suscita-me um olhar ainda mais crítico. Ora, já deverão ter percebido, reporto-me ao famigerado caso da licenciatura de José Sócrates.
Acompanhei, confesso que atónito, a recente entrevista concedida à RTP pelo primeiro-ministro de Portugal. Durante cerca de 45 minutos, fiquei incrédulo com o triste espectáculo proporcionado pelo canal público de televisão, esmiuçando com questões mesquinhas a vida privada, neste caso académica, do cidadão José Sócrates.
Se aquele tipo de entrevista tivesse sido realizado pela TVI ou pela SIC, contextualizando o passado recente, até nem ficaria surpreendido, por serem canais privados que muitas vezes, em nome das audiências, sobrevalorizam a informação espectáculo em detrimento dos critérios editorais objectivos. Mas foi o canal pago por todos nós, que devia primar pelo cumprimento de uma alinha editorial sóbria e consentânea com o que é comummente aceite como regras genéricas de um bom jornalismo.
Não concebo que seja possível dois reputados jornalistas estarem 45 minutos a tentar perceber em que moldes é que foi feita a licenciatura, com que equivalências e em que datas, se à sexta ou ao sábado, se foram emitidos determinados certificados, ou se foi o professor A ou o professor B que leccionou esta ou aquela cadeira. Foi uma das entrevistas mais maçudas, mesquinhas, artificiais e sem interesse a que já assisti.
Numa altura crucial para o país, em que tantos portugueses vivem momentos de grande dificuldade, mas também onde começam a aparecer indicadores animadores quanto ao crescimento da economia e abaixamento do défice, não era muito mais premente, diria, incontornável, aproveitar a presença do primeiro-ministro para o questionar sobre aquilo que efectivamente interessa a todos nós? Os 45 minutos perdidos a discutir o sexo dos anjos, sabe-se lá com que interesses, teriam sido muito mais bem aplicados se fosse dada oportunidade a José Sócrates para aprofundar medidas tão sensíveis como o encerramento das urgências, maternidades, escolas e postos policiais e tribunais um pouco por todo o país. Ou então a possibilidade do chefe do governo falar das suas perspectivas para o futuro de Portugal.
Tenho a certeza de que a maioria dos portugueses não está interessada em saber se o primeiro-ministro é ou não engenheiro ou se a sua licenciatura foi conseguida de forma mais facilitada. Essas são questões particulares de José Sócrates em nada influenciam a sua tarefa de governar o país. O que nos interessa é que o primeiro ministro governe bem, independentemente de ser engenheiro, advogado, médico, electricista ou qualquer outra profissão.
Mas então o que dizer de alguns políticos com responsabilidade que rapidamente se precipitaram num aproveitamento absolutamente deplorável deste caso, revelando um oportunismo que traduzirá a forma mesquinha como percepcionam o exercício da causa pública? Esses políticos profissionais, que gravitam nos corredores entrecruzados dos corredores do poder do microcosmos da capital, tão disponíveis para esmiuçar a mesquinhez, prestaram um mau serviço ao país. Não perceberam que as suas preocupações estão a anos-luz do que efectivamente interessa aos cidadãos e deram um mau exemplo. Só se lamenta que alguma comunicação social tenha perdido o discernimento de separar o acessório do essencial, preferindo ampliar o primeiro, numa manifestação, que não é nova, de que o espectáculo, mesmo conseguido por caminhos menos sóbrios, vale mais a pena do que uma informação rigorosa.
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