sexta-feira, 11 de maio de 2007

> O balinho da Madeira

O fim-de-semana passado foi pouco agradável para os socialistas, que averbaram duas derrotas expressivas nos actos eleitorais em França e na Madeira.
Por cá, a vitória de Jardim não surpreendeu ninguém. Como aqui já vaticinámos, foi consequência de uma jogada politicamente esperta do chefe do governo madeirense. Confrontado com uma nova lei das finanças locais que impunha maior rigor na gestão das contas das regiões autónomas, Jardim partiu para a um discurso de vitimização, precipitando a demissão. Jardim, que há dois anos tinha ganho as eleições, mas com resultados que já acusavam o desgaste de longos anos de poder, percebeu há algumas semanas que era uma excelente oportunidade para inverter as perdas e pôr em prática, de forma exponencial, o seu discurso demagógico e assim capitalizá-lo no plano eleitoral, com os resultados que se conhecem: prolongou por mais dois anos a sua permanência na presidência do governo e reforçou de forma avassaladora a maioria social-democrata no parlamento madeirense, ao mesmo tempo de quase varria do mapa político da ilha os partidos da oposição, incluindo o PS, que perdeu parte do seu grupo parlamentar. Com tudo isto, Jardim tem agora ainda mais poder do que nunca, sobretudo porque a oposição viu diminuída a sua margem de manobra. O PSD madeirense tem mais lugares disponíveis no parlamento regional para satisfazer o apetite do aparelho partidário e o presidente do governo viu legitimada nas urnas uma estratégia política muito contestada no Continente, mas, como se viu, apreciada pelos seus conterrâneos.
Mas Jardim conseguiu algo ainda mais importante para a sua estratégia: o PS madeirense sofreu uma derrota tremenda, vergado ao ónus de ter de fazer campanha num quadro adverso, por estar umbilicalmente associado ao governo que, em Lisboa, decidiu avançar com medidas que se traduziram em impactos negativos para a Madeira., independentemente de concordarmos ou não com a justeza da alteração legislativa imposta por Sócrates. Os socialistas madeirenses vão ficar marcados longos anos por este estigma. Os que habitam aquela ilha, obviamente imbuídos de um espírito bairrista, demorarão muito tempo a esquecer que foi um governo do PS que impôs regras que por lá se diz serem adversas para a Madeira. Não deveremos andar muito longe se concluirmos que o PS daquela região autónoma vai ter agora de cumprir uma prolongada travessia no deserto, algo que, há a alguns meses, se julgava impensável, atendendo que se pensava que o ciclo de hegemonia do PSD estava a dar as últimas…

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